terça-feira, 7 de julho de 2009

Minoria sexual




Não sou heterossexual. Nem homossexual. Tampouco bi ou pansexual. Não sei se já existe um termo para denominar minha sexualidade. Então, inventei um: solossexual. Eu me basto sexual e afetivamente.

Sou o que representa efetivamente uma minoria sexual. Homo, bi e pansexualidade são desaprovadas por muita gente. Mas não são ignoradas. Mesmo com os carolas dizendo que se trata de pecado, uma doença que tem cura, não há como não reconhecer a existência de indivíduos que gostam de pessoas do mesmo sexo. Ou de todos os sexos. Gostam até de trepar com animais e objetos. Já a solossexualidade é completamente desacreditada. Os outros consideram viadagem enrustida ou algum distúrbio psicoemocional grave.

Mais ainda: solossexualidade é vista como imaturidade. Bobagem. Tem de ser maduro e bem-resolvido para não ter vergonha de ir sozinho ao cinema ou restaurante. Inclusive no Dia dos Namorados. Fazer isso gostando da solidão. É necessário ser emocionalmente desenvolvido para não ficar choramingando que no mundo atual não há mais amor e romantismo. E requer bastante autoconfiança enfrentar cobranças dos que ficam espantados - e até mesmo indignados - com os que não namoram, não casam e não procriam.

Sou partidário do evolucionismo e entendo a propensão biológica para o acasalamento. No caso dos humanos, a evolução produziu a paixão, o amor romântico e o casamento porque filhote de gente é muito dependente. E durante bastante tempo. Necessita do pai e da mãe por muitos anos para se alimentar e crescer. Daí a formação dos casais. Amor não é emoção. É um impulso, como a fome. Mais detalhes científicos podem ser obtidos no livro Por que amamos, da americana Helen Fischer.

Mas ocorrem mutações genéticas. Vai ver sou um dos X-Men. Daí o surgimento de outras orientações sexuais. E tais sexualidades heterodoxas – biologicamente falando – não eliminam sequer tendências paternais e maternais. Basta ver o número de casais de gays e lésbicas que adotam, querem adotar ou arranjam uma barriga de aluguel ou doador de esperma para poder ter filhos.

Solossexuais não contam com políticas públicas. Heterossexuais que não desejam mais ter filhos podem fazer vasectomia e laqueadura de graça pelo Sistema de Saúde brasileiro. Nosso governo também já oferece cirurgias de mudança de sexo.

Também quero ser beneficiado. Devo ter acesso aos meus direitos daqueles que desejam planejamento familiar. Uma vasectomia particular custa entre oitocentos e um mil reais. Como os transexuais, quero conforto psicológico. Eliminar a possibilidade de ter filhos traria grande alívio para mim. E mais que tudo isso: o mundo está com overbooking. Quem não quer reproduzir tem de ser é louvado. Vasectomia e laqueadura são bem mais efetivos para o meio ambiente do que ativistas do Greenpeace.

A medida não contemplaria apenas os solossexuais. Alguns heterossexuais também não querem filhos. Procriar tornou-se coisa de pobre e caipira. É só ver o crescimento dos dinks – sigla em inglês para casais com renda dupla e sem filhos – entre as classes média e alta das grandes cidades.

Companhia é acessório. E serve apenas para relações profissionais, amizade e coleguismo. Dá até para compartilhar mesa. Em restaurantes e bares. Só que nada de dividir cama e banho.