terça-feira, 20 de julho de 2010

Natureza de morte

Encaro a maldade como natural. Sou apreciador de séries e livros policiais que tratam de psicopatas e criminosos brutais. E, por estar familiarizado com a coisa, não me choco com crimes hediondos que se tornam casos de grande repercussão. Tento é estabelecer conexões com o que vi e li em programas e textos.

Segundo Martha Stout, psicóloga norte-americana e autora do livro Meu vizinho é psicopata, cerca de 4% da população humana é composta de indivíduos com personalidade antissocial. Gente que não se importa em causar sofrimento aos outros.

Nem todo psicopata é assassino ou mandante de homicídio. Segundo a mesma Martha Stout, em torno de 1% do total de sociopatas chega a matar.

Entre as séries em estilo de documentário sobre assassinos, minha preferência fica com O índice de maldade, do Discovery Channel. É apresentada pelo psiquiatra forense norte-americano Michael Stone, criador de uma escala que vai de 1 a 22 para classificar os matadores brutais.

Agrada-me o tom sóbrio e intelectualmente especulativo do doutor Stone, em contraste com sensacionalismo e tom salvador empregado em outras produçõs. Apesar do nome O índice da maldade – o original em inglês é Most Evil -, não tem histeria nem falsas promessas de encontrar um ser humano melhor.

Destaco as entrevistas que o psiquiatra faz com assassinos em série. Exemplo: Tommy Lynn Sells, que está no nível mais alto da escala de Stone. Sells matou cerca de 70 pessoas. O número pode ser ainda maior. Matava indiscriminadamente: homens, mulheres e crianças. Jovens e idosos. Variava também o método.

De maneira sóbria, o doutor leva o assassino a contar sobre o prazer de matar. Sells declara que a sensação de enfiar uma lâmina em alguém é, para ele, como uma droga. Ainda é irônico. Fala que prefere facas a armas de fogo, pois estas últimas são perigosas. E revela, claro, a falta de remorso.

Uma figura assim é mais interessante de ouvir do que os considerados bonzinhos. Eles estão fora do esquema das pregações sobre ética e moralidade. E aí viram personagens interessantes. Não dá para aguentar o tempo inteiro o nhenhenhém sobre ser do bem.

Maldade é fascinante. Basta ver o sucesso de personagens como Hannibal Lecter, o psiquiatra refinado e canibal, criado pelo escritor norte-americano Thomas Harris.

Não sou muito dado a rever filmes. Mas O silêncio dos inocentes eu já vi várias vezes para curtir a forma como Lecter provoca e manipula a mente de Clarice Starling, a agente novata do FBI que vai entrevistá-lo em um manicômio judiciário. O médico troca informações e opiniões que podem levar à captura de um assassino em série pelos segredos e medos de Starling.

Eu preferiria entrevistar um psicopata assassino como Tommy Lynn Sells do que uma freira. Assim também como me aconselharia com Hannibal Lecter. Claro que em ambiente controlado.

Pelo que as neurociências descobriram até agora, não há tratamento para sociopatia. Menos ainda para os assassinos. Só param quando presos – embora ainda possam matar na prisão - ou mortos. Então, só resta contar com a existência natural da crueldade.



Marcelo Amaral

e-mail: mcamaral@uol.com.br