sábado, 12 de dezembro de 2009

Palestra



AUTOSSUFICIÊNCIA AFETIVA

A SUPERAÇÃO DO IDEAL ROMÂNTICO



CONTEÚDO PROGRAMÁTICO





INTRODUÇÃO


AMOR NÃO PRESTA: COMO O ROMANTISMO MINA A INDIVIDUALIDADE


PARTE 1 - MITIFICAÇÃO DO AMOR ROMÂNTICO


· BREVE HISTÓRIA DO AMOR
· RELIGIÕES E PERPETUAÇÃO DO AMOR ROMÂNTICO
· CONSTRUÇÃO DO ROMANTISMO NAS ARTES
· AMOR, PAIXÃO E SUAS DOENÇAS
· O FARDO DO CASAMENTO
· AMOR NA CONTEMPORANEIDADE
· TENDÊNCIA: MULTIPLICIDADE DE PARCEIROS


PARTE 2 - TRATAMENTOS PARA O AMOR ROMÂNTICO


· NEUROQUÍMICA DO AMOR E DA PAIXÃO
· NEUROPSICOLOGIA DO AMOR
· TRATAMENTOS MEDICAMENTOSOS PARA ATACAR O ROMANTISMO
· TERAPIAS COMPORTAMENTAIS ANTIRROMÂNTICAS



PARTE 3 - OUTROS AMORES NOCIVOS


· AMOR A ANIMAIS: CARÊNCIA TOTAL
· AMOR A FILHOS E CRIANÇAS: O FIM DA CURTIÇÃO
· AMOR AO TRABALHO: ANULAÇÃO IDENTITÁRIA
· AMOR A DIVINDADES: A GRANDE ILUSÃO


CONCLUSÃO


APOLOGIA DA SOLIDÃO: AUTOAFETIVIDADE


DURAÇÃO


50 MINUTOS


CONFERENCISTA


MARCELO AMARAL, 33 ANOS, É ELE.


CONTATO


BLOG:
WWW.OINSENSIVEL.BLOGSPOT.COM
E-MAIL: MCAMARAL@UOL.COM.BR

TEL: (11) 3735-0068
CEL: (11) 9196-0246

Ergofobia

Tenho um medo patológico. Ergofobia. Significa horror ao trabalho. Só vi outra pessoa admitir publicamente, até hoje, ser ergofóbico: o playboy Chiquinho Scarpa. A conta bancária dele permite viver muito bem o distúrbio. A minha, não. Mas eu não largo a preguiça.

O estilo contemplativo de levar a vida recebe forte reprovação moral. Há aquele clichê católico de que o trabalho dignifica o homem. A ética protestante do trabalho está impregnada. Até o marxismo exalta a labuta. Não apenas por prever uma revolução perpetrada por operários. E sim porque Karl Marx também dizia que o homem se realiza em sua atividade laboral. Então, quem não é chegado no trabalho, fica malvisto.

Só que na realidade trabalhar tem muito mais que ver com a vida prática do que com o resto. É pelo sustento que a maior parte das pessoas passa um tempão – mais de 10 horas por dia em muitos casos – executando tarefas chatas. Recebendo ordens de chefes tidos como imbecis. E sendo rodeadas por colegas que suspeitos de serem sacanas.

O lance de dar uma dimensão religiosa e espiritual ao trabalho é maquiagem. Perfumaria. Para tornar a coisa mais suportável. A realidade não tem graça para as pessoas. Isso é o que me intriga na mente humana. A incapacidade de aceitar a realidade de que tudo acontece de forma aleatória.

Os relacionamentos também entraram na lógica do trabalho. O papo que mais se ouve nesta área é que as relações afetivas e sexuais precisam ser trabalhadas e retrabalhadas todos os dias. É o esforço para manter a chama viva. Não sei por que tanta labuta. Basta trocar de parceiro. Arrumar um caso. Umas relações casuais.

Toda essa trabalheira não tem sido grande coisa. Meu hobby é ficar em cafeterias e praças de alimentação escutando conversa dos outros. E o que eu mais capto é lamentação sobre trabalho e relacionamentos.

Minha teoria é que exigência demais atrapalha. Profissionais que buscam o máximo, muitas vezes, se enrolam tanto que não fazem sequer o mínimo. Gente que põe altas expectativas e obrigações em um relacionamento acaba abandonada ou traída.

Não me incomodo de ver a vida passar. Não curto ação. Gosto de ser espectador e comentarista.

domingo, 18 de outubro de 2009

Pátria e pragmatismo


Uma lei promulgada recentemente obriga que todas as escolas públicas e privadas do Brasil toquem o hino nacional ao menos uma vez por semana. A justificativa é incutir mais patriotismo na mente das crianças e adolescentes. Duvido que a medida alcance este tipo de eficácia. Além de, por temperamento, tratar patriotismo, nacionalismo, ideologia política e religião como breguice e lavagem cerebral.

Ficar perfilado ouvindo a execução do hino – e, talvez, observando o hasteamento da bandeira do Brasil – vai ser encarado como pagar mico pelos alunos. Vai ser difícil colocar as crianças quietas. Elas vão querer que acabe logo para sair correndo. As adolescentes vão mascar chiclete, mexer no cabelo e olhar para bundas, peitos e rostos de colegas. Ninguém vai se lixar para o “Ouviram do Ipiranga”.

Doutrinação patriótica é coisa para regimes do tipo Coreia do Norte. As pessoas vão levar em conta suas vidas práticas. A molecada não vai se estimular por um hino com uma letra complicada. Eles querem saber de IPod e Mp5. Querem que o país ofereça acesso às tecnologias mais avançadas a preços viáveis. E, claro, oportunidades de formação e trabalho.

Caso contrário, vão ignorar as raízes e os nossos bosques - que têm mais vida, de acordo com o hino nacional brasileiro - e emigrarão. Os caras estão conectados com várias partes do mundo. Veem e ouvem coisas de toda parte do planeta. Tenderão a procurar lugares onde entendam que possam realizar seus desejos.

Lula é uma figura de destaque no cenário geopolítico internacional. O Brasil será sede da Copa do Mundo de 2014. O Rio de Janeiro vai abrigar a Olimpíada de 2016. Mas o Brasil está superestimado. Exemplo: os alunos brasileiros continuam se dando mal em testes e concursos mundiais. E isso não tem nada que ver com o fato dos jovens não cantarem que “um filho teu não foge à luta”.

É que agora, Lula inclusive, alguns têm dito que falar mal do Brasil é falta de patriotismo. Penso que quem reclama é porque têm mais percepção. Não se ilude. E, além disso, tem mais propensão a buscar melhoria do que os crédulos. Esse papo de falta de patriotismo foi o mesmo argumento usado pelo governo de George W. Bush para abafar os críticos das medidas tomadas após o 11 de setembro de 2001.

Cantar o hino nacional brasileiro nas escolas é bobagem. Os alunos vão fazer a vida é com Orkut, Facebook e Twitter.









domingo, 20 de setembro de 2009

Gente poética


Leio quase tudo apresentado como antirreligioso. É que sou quase nada poético. E, como religião é poesia, fico tentado a tomar conhecimento de qualquer crítica – enfurecida ou irreverente – dirigida à fé religiosa.

Eu considero que a principal distinção do ser humano em relação aos outros animais é a capacidade de fazer poesia. Cérebro de gente cresceu demais e passou a inventar coisas. Uma delas é acreditar que existe um ser superior responsável pela criação de tudo no Universo. E mais: o tal ser monitora as vidas das bilhões de pessoas que existem e já existiram na Terra. Por isso que eu não consigo ser sério.

O último livro contrarreligioso que li foi A morte da fé, do americano Sam Harris. Mesmo sendo agnóstico, vejo um problema na obra de Harris: a transformação do agnosticismo ou ateísmo em dogma. Em salvação. Trata-se da crença de que ao eliminar – ou, ao menos, reduzir brutalmente a influência - as religiões o mundo será melhor.

A justificativa é que há muita matança em razão de credos. Fato. Mas também é fato que a poesia humana já criou outras formas de impulsionar violência, como ideologia política e nacionalismo. E muitas outras serão fabricadas. Não há salvação.

Nada indica que a religião será erradicada. É tão ingênuo quanto crer em imortalidade da alma. Em alma. A ingenuidade poética do grande cérebro humano não dá mostras de que possa ser defenestrada.

Mas Harris expõe uma questão pertinente: uma proibição tácita de falar mal das religiões e dos crentes. Quando se deprecia verbal ou visualmente uma crença, os religiosos pedem respeito.

Falta de respeito é impedir que outra pessoa exerça sua fé. Seria agredir fisicamente alguém que carrega uma Bíblia. Ou destruir um templo. Mas dizer que não gosta, desaprova, acha ridículo ou absurdo acreditar em força superior é liberado. Trata-se apenas de explicitar o credo que as religiões não prestam. Tão legítimo quanto o Kaká usar uma camiseta com a inscrição “Eu pertenço a Jesus”.

Religião enche o saco. Atrapalha. Penetra em muitas áreas. Mas não há como eliminá-la. O que resta é falar mal dela.


www.twitter.com/marcamaral

domingo, 16 de agosto de 2009

Moralismo exemplar


Não cobro comportamento modelar de astros pop e atletas célebres. Estes não devem ser tomados como exemplo para crianças e adolescentes. Se os famosos adotam uma vida considerada desregrada, problema deles. E azar ou sorte de quem os usa como referência. Educação é responsabilidade de pais, outros familiares delegados e profissionais da área.

Comentaristas esportivos deram para patrulhar jogadores de futebol. Recentemente, o atleta Leo Moura, do Flamengo, foi execrado pela imprensa por ter dito palavrões em direção à torcida do Flamengo, em um jogo contra o Náutico, no Maracanã. Moura estava sendo bastante vaiado pelos torcedores. E, ao fazer o gol de empate do Flamengo, saiu xingando. Depois, no dia seguinte, pediu desculpas.

O comentário mais frequente na mídia esportiva foi do tipo “Isso não é exemplo, imagine você está assistindo ao jogo com o seu filho e aparece um jogador xingando a torcida”. Questão simples. O pai que considera a atitude de Leo Moura inadequada deve explicar isto a seu filho.

Entendo que as pessoas devem ser educadas tomando contato com a realidade. E na realidade existem xingamentos. Há conflitos. Violência. Pessoas tomam atitudes intempestivas. Cabe ao orientador fornecer ferramentas para que o jovem analise as coisas que o cercam. Detecte o que é cultural, social e legalmente aceito. Claro que alguns transgredirão. Só que professores e educadores pagos para fazer com que seus alunos assimilem os conceitos desejados por quem os contrata.

Outro exemplo. Na academia que frequento o som, geralmente, fica ligado na rádio 89 FM. Uma emissora de São Paulo que toca música pop e eletrônica. Eu estava na bicicleta ergométrica e na 89 estava sendo entrevistada uma banda adolescente. Não sei o nome da banda. Em dado momento, um dos integrantes da banda disse “fico o dia inteiro na internet”. Um cara – sujeito na faixa dos 35 anos, imagino - que se exercitava perto de mim ficou furioso. Soltou: “Como que o moleque fala uma coisa dessas! A garotada que gosta da banda vai se espelhar e ficar o tempo inteiro no computador”.

Completa falta de leitura de mundo em função de um moralismo. Os componentes da banda ficam muito tempo no computador porque pertencem à geração da garotada. Tem mais: adultos também ficam muito tempo na internet. Tanto no trabalho quanto em casa. Computador é a ferramenta que media relações profissionais e pessoais na atualidade. Velhinhos ficam na rede. Não tem cabimento patrulhar os rapazes da tal banda. Até porque o garoto pode se dar muito bem no computador. Quem sabe se torna um programador bem-sucedido. Um blogueiro remunerado. Ou crie um site que bombe e depois acaba vendendo-o por milhões.

Outra coisa: quem quer proteger demais o filho vai acabar criando um idiota. A criança ou adolescente sem contato com a realidade vai ser muito ingênua. Quebrará a cara quando tomar contato com a crueza e os conflitos das relações sociais. Alguém bobo assim é muito mais vulnerável. E o moleque que quiser experimentar drogas, vai experimentar. Mesmo com a superproteção dos pais.

Eu estou ligado nas obras dos artistas e nas jogadas dos atletas. Acompanho, sim, a vida pessoal de alguns deles. Só que como diversão. Nada de ficar preso a moralismo comportamental.






terça-feira, 7 de julho de 2009

Minoria sexual




Não sou heterossexual. Nem homossexual. Tampouco bi ou pansexual. Não sei se já existe um termo para denominar minha sexualidade. Então, inventei um: solossexual. Eu me basto sexual e afetivamente.

Sou o que representa efetivamente uma minoria sexual. Homo, bi e pansexualidade são desaprovadas por muita gente. Mas não são ignoradas. Mesmo com os carolas dizendo que se trata de pecado, uma doença que tem cura, não há como não reconhecer a existência de indivíduos que gostam de pessoas do mesmo sexo. Ou de todos os sexos. Gostam até de trepar com animais e objetos. Já a solossexualidade é completamente desacreditada. Os outros consideram viadagem enrustida ou algum distúrbio psicoemocional grave.

Mais ainda: solossexualidade é vista como imaturidade. Bobagem. Tem de ser maduro e bem-resolvido para não ter vergonha de ir sozinho ao cinema ou restaurante. Inclusive no Dia dos Namorados. Fazer isso gostando da solidão. É necessário ser emocionalmente desenvolvido para não ficar choramingando que no mundo atual não há mais amor e romantismo. E requer bastante autoconfiança enfrentar cobranças dos que ficam espantados - e até mesmo indignados - com os que não namoram, não casam e não procriam.

Sou partidário do evolucionismo e entendo a propensão biológica para o acasalamento. No caso dos humanos, a evolução produziu a paixão, o amor romântico e o casamento porque filhote de gente é muito dependente. E durante bastante tempo. Necessita do pai e da mãe por muitos anos para se alimentar e crescer. Daí a formação dos casais. Amor não é emoção. É um impulso, como a fome. Mais detalhes científicos podem ser obtidos no livro Por que amamos, da americana Helen Fischer.

Mas ocorrem mutações genéticas. Vai ver sou um dos X-Men. Daí o surgimento de outras orientações sexuais. E tais sexualidades heterodoxas – biologicamente falando – não eliminam sequer tendências paternais e maternais. Basta ver o número de casais de gays e lésbicas que adotam, querem adotar ou arranjam uma barriga de aluguel ou doador de esperma para poder ter filhos.

Solossexuais não contam com políticas públicas. Heterossexuais que não desejam mais ter filhos podem fazer vasectomia e laqueadura de graça pelo Sistema de Saúde brasileiro. Nosso governo também já oferece cirurgias de mudança de sexo.

Também quero ser beneficiado. Devo ter acesso aos meus direitos daqueles que desejam planejamento familiar. Uma vasectomia particular custa entre oitocentos e um mil reais. Como os transexuais, quero conforto psicológico. Eliminar a possibilidade de ter filhos traria grande alívio para mim. E mais que tudo isso: o mundo está com overbooking. Quem não quer reproduzir tem de ser é louvado. Vasectomia e laqueadura são bem mais efetivos para o meio ambiente do que ativistas do Greenpeace.

A medida não contemplaria apenas os solossexuais. Alguns heterossexuais também não querem filhos. Procriar tornou-se coisa de pobre e caipira. É só ver o crescimento dos dinks – sigla em inglês para casais com renda dupla e sem filhos – entre as classes média e alta das grandes cidades.

Companhia é acessório. E serve apenas para relações profissionais, amizade e coleguismo. Dá até para compartilhar mesa. Em restaurantes e bares. Só que nada de dividir cama e banho.








quinta-feira, 2 de abril de 2009

Esperança feminina

Não tenho o gene do nhenhenhém. Consequência: sou antirromântico. Por esse motivo fui ver o filme Ele não está tão a fim de você. É baseado no livro Ele simplesmente não está a fim de você - Entenda os homens sem desculpas, dos americanos Greg Behrendt e Liz Tuccillo, da equipe de roteiristas do seriado Sex and the city. Claro que não se trata de um panfleto contra a paixão, o amor e os relacionamentos sérios. É uma comédia de Hollywood, não um filme cabeça. Há finais felizes. Finais porque são algumas histórias e personagens que resvalam uns nos outros. Mas até que cutuca a questão da esperança - principalmente das mulheres - de encontrar o par ideal.

Gigi, a personagem que está mais em busca do homem da sua vida, recebe várias lições diretas sobre o comportamento masculino. Tem a ajuda de um consultor - um gerente de bar galinha - que mostra a ela todas as artimanhas dos caras para dispensar uma mulher. Mesmo assim, Gigi mantém as expectativas. Fica esperando os caras ligarem. Inventa desculpas sobre os motivos pelos quais os sujeitos não quiserem um segundo encontro com ela. Pior: persegue alguns deles. Por e-mail, telefone ou indo até os locais frequentados pelos indivíduos. É caricato. Óbvio. Só que muitas garotas ainda adotam posturas como as de Gigi.

Isso me intriga. Por que muitas mulheres ainda focam na busca do relacionamento sério. Existem as explicações psicológicas mais difundidas. Uma delas é a de que o ser humano sente falta do aconchego do ventre e dos cuidados da mãe quando bebê. Isto provoca uma sensação de incompletude que, na mente humana, somente será superada por meio de um relacionamento amoroso como namoro ou casamento. Um relação oferece segurança emocional. Vai ver que eu nasci completo. Sou misógamo. E, entre segurança e liberdade, principalmente no lado afetivo, fico sempre com a liberdade.

Muitos especialistas atacam o romantismo. Flávio Gikovate, um psicoterapeuta midiático, é um deles. Ele é mais vaselina, pois precisa ser político por conta de suas participações na imprensa e como consultor de empresas. No livro Ensaios sobre o amor e a solidão, Gikovate diz que as relações amorosas de melhor qualidade se parecem mais com amizade do que o ardor - o cíume, o controle e a possessivade - romântico.

Regina Navarro Lins, autora de Fidelidade obrigatória e outras deslealdades é mais contundente. Ela se posiciona contrária à fidelidade sexual. Além disso, aborda o poliamor. Trata-se do seguinte: uma pessoa pode constituir uma rede de relações amorosas. Morar com alguém que seja melhor companheiro, ter um outro parceiro sexual e depois sair com alguém mais divertido para jantar.

A americana Laura Kipnis enfia ainda mais o pé na jaca em Contra o amor - Uma polêmica. Gosto muito da objetividade da maioria dos americanos. Laura escreve que o casamento é um prisão. Um subaproveitamento de todas as possibilidades de relações.

Estou com Laura. Não consigo entender por que as pessoas ainda pensam em apenas um parceiro para tudo. Não compreendo como mais gente não adere, mais abertamente, a este lance de poliamor exposto por Regina Navarro Lins.

Mas, para o encantamento dos carentes, o romantismo continua hegemônico. Os especialistas apenas apontam tendências que ainda vão demorar muito a se consolidar. Enquanto isso, vou ter de ouvir o nhenhenhém de que "todo mundo precisa de alguém".

O melhor de Ele não está tão a fim de você é Scarlett Johansson. Além da beleza, a personagem dela, Ana, mostra-se, ao final, uma representante da liberdade sexual e amorosa. Repito minha tese já externa anteriormente: casamento é para os medíocres. Os muitos bonitos, muito inteligentes, muito cultos ou muito talentosos devem ser livres.

quinta-feira, 19 de março de 2009

O bem é brega


É cafona chamar alguém de “do bem”. Isto se verifica observando as pessoas que são consideradas “do bem”. Trata-se, na maior parte dos casos, de gente malvestida. De cabelo ruim e desarrumado. Exemplo: Betinho, o sociólogo da campanha contra a fome.

Além do papo ingênuo – que é brega, porque denota falta de refinamento intelectual - de quem leva a sério as categorias de bem e de mal. E se distinguir por ser “do bem” deprecia. Significa que o cara chama atenção por honra, não por beleza física, bom gosto, inteligência, repertório cultural e talentos.

Estética e sofisticação precedem dignidade e retidão. Já mencionei o Betinho. Tudo bem que ele estava fisicamente debilitado pela AIDS, contraída por intermédio de transfusões de sangue em função de hemofilia. Mas aparecia na mídia com roupas puídas. Camisas de algodão vagabundo, que deixavam à mostra o tronco ossudo dele. As calças pareciam ser de tergal. Não dava vontade de ajudar.

Outro exemplo: vegan. Recusam-se a usar produtos compostos de matérias-primas de origem animal e acabam bem mal-ajambrados. Uma vez conheci uma garota desse tipo que usava umas sandálias com tiras feitas de barbante. Aquilo ficava sujo. Fora uns calçados de plástico – devia ser biodegradável, eles se ligam nessas coisas – e pano que certamente davam um puta chulé. Pior que existem roupas, sapatos e outros acessórios de couro sintético. Não entendo por que esse pessoal não se arruma.

Prefiro ser engambelado – se tiver que ser – por pessoas compostas. Uma mulher longilínea. Que veste vestido preto, terninho ou jeans casual-chic ajustados ao corpo dela. Faço questão que alguém assim tente me dar um golpe. Pode ser financeiro e até mesmo sexual.

Esse pessoal que se diz “do bem” ou é muito magro ou é bastante gordo. Há vegetarianos que por acharem imoral comer bicho se entopem de massas e doces. Terminaram parecendo porcos, elefantes ou gatos gordos. Comam peito de frango grelhado e fiquem alinhados, caramba.

Os cabelos também são lamentáveis. Todo ongueiro que vejo tem cabelo de aparência suja. E as mulheres “do social” nem se penteiam. Alisamento e escova para elas seriam a minha contribuição ao bem comum. A exceção é a Viviane Senna. Já era refinada e continuou depois que passou a comandar uma instituição beneficente.

Espero jamais ouvir ou ler “Marcelo Amaral é do bem”.





terça-feira, 10 de março de 2009

Revelação: por que emagreci

Perguntam-me por que eu resolvi emagrecer. Claro que a maioria vem com os clichês "Está apaixonado?" e "Tem mulher na jogada?". Vou revelar o que acontece. Há muitas mulheres na jogada. Várias. Mas não tem nada que ver com relacionamento e transa. Sou portador de autossuficiência afetiva e sexual. A questão é que quando eu estava gordo muitas mulheres viam em mim a figura de pai de família. Não sei bem os motivos. Não me interessa saber. O fato é, que em todos os meus círculos de convivência, a maior parte do mulherio dizia que eu tinha cara de bom marido e bom pai. Que merda.

Isso me incomodava. Podem achar o que quiserem de mim. Exceto duas coisas. Uma delas é essa de pai de família. A outra seria de bicho-grilo. Mas posso ficar tranquilo. Jamais aparentei ser bicho-grilo. Ando arrumado. E sou muito ligado em coisas materiais, principalmente artigos de luxo. Achei que se entrasse em forma - junto com esse meu pendor metrossexual - poderia destruir essa imagem de marido e pai. Queria ter cara de conquistador. De mulherengo. Até de viado. Contanto que me livrasse da percepção de "benzinho", "amor" e "papai".

As que me consideram reprodutor eram, na maior parte, gordas. Elas me viam com o par perfeito para formar com elas uma família moletom. Falo daquele casal que vai com os filhos sábado à tarde passear em algum shopping. A mulher, uma baleia, de conjunto de moletom rosa. Parece um bicho de pé. O doce bicho de pé. Só falta polvilhar açúcar refinado em cima. O marido de moletom cinza. Barriga caindo. As crianças também de moletom. Correndo. Entrando nas lojas. E os pais esbaforidos atrás. Eu queria sair fora dessa fantasia.

Parece que estou conseguindo me desvencilhar da cara de pai de família. Um exemplo. Há poucos dias encontrei com duas moradoras antigas do meu prédio. Conheço-as há mais de 20 anos. Uma divorciada, sem filhos. A outra casada desde de sempre com o mesmo homem, mãe de dois rapazes, na faixa dos 30 anos, um deles, trouxa, já casado. A casada sempre me pergunta quando vou casar. Nem precisei responder dessa vez. A divorciada mandou: "Agora que ele tá assim bonitão, cê acha que vai querer casar? Vai é curtir".

Quem sabe agora serei atacado por uma mulher pegadora. Não vai acontecer nada em termos sexuais. Sou frígido. Mas quero ser atacado.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Chatices espiritualistas


Não sou apenas misoteísta. Vou além do aborrecimento com discursos religiosos. Também sou antiespiritualista. Qualquer nhenhenhém sobrenatural me chateia. É um saco isso de buscar significado superior em tudo.

Sei que vão dizer que os seres humanos precisam acreditar em algum tipo de transcendência para suportar a vida. Argumentarão que mitos religiosos são fundamentais para erguer e preservar civilizações. Embora não se pode deixar de falar nas destruições em nome da fé.

Sem contar as bizarrices. Como a da dos conservadores contra o sexo. Os carolas afirmam que as catástrofes naturais são uma retaliação divina por conta da fornicação, do aborto e a boiolagem. Há ainda aquela mescla de cristianismo com marxismo, a Teologia da Libertação. Heloísa Helena diz que aprendeu socialismo na Bíblia.

Está pior agora com a onda new age. São os produtos espirituais vindos do Oriente. Tem gente com mania de saudar os outros com o termo hindu namastê. Quer dizer que o deus interior de um cumprimenta o deus interior do outro. Se alguém me mandar um namastê, vou tratar de me afastar. É caso grave de esquizofrenia. Porque além de achar que existe uma entidade dentro dele, acha que existe também uma dentro de mim.

Existem ainda as chinesices. Tipo feng shui. Como se a reorganização de móveis pudesse produzir transformações na vida de alguém. Entra na mesma categoria de crendice e charlatanismo de cartomancia e astrologia.

Outra coisa: as pessoas muito religiosas e espiritualistas que conheci são sensíveis e emocionalmente intensas. Os sensíveis quietos e retraídos – desde que não se transformem em sociopatas – até que passam. Mas os veementes são duros de conviver. Não aceitam ter suas crenças e opiniões contestadas. Consideram-se superiores, porque são sensitivas. Elas têm intuição. Enxergam além das coisas. Por isso se julgam detentores do monopólio da crítica, direcionada a materialistas como eu.

Têm valores espirituais elevados. São dotadas da capacidade de amar profundamente. Doam-se aos outros. Que nada. O intenso requer atenção o tempo inteiro. São carentes. Isso. Espiritualidade é carência. Transformam coisas simples, como beber água, em grandes eventos. E se o outro não entra na pilha dele – assista ao espetáculo da hidratação, perceba e comente como aquela comunhão cósmica do sensitivo com o líquido da vida – o sujeito fica puto. Considera o outro cara espiritualmente inepto.

Eu prefiro os valores monetários. Não troco meus relógios e minhas roupas pelo amor. Em vez de formar uma família, vou montar um home theater. Quando digo algo assim, os espiritualistas dizem que um dia vou olhar para trás e ver que não construí nada. Se eu quisesse construir alguma coisa, teria tentado virar engenheiro em vez de jornalista.

Eu gostaria que a evolução – falo de Biologia, de darwinismo - desse cabo da espiritualidade. Mas não acredito que isso aconteça. E se acontecer não será durante a minha vida, que é o período que me interessa. Vou ter de mesmo de suportar gente que acha ter alguma importância para o Universo.






quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Base masculina


Passei a ir à manicure nos últimos meses. Não tenho periodicidade definida nem local de preferência. Quando acho que devo fazer a unha, procuro um lugar perto de casa ou de onde esteja no momento. Na última vez, fui a um salão especializado em mão, pé e depilação no Shopping Morumbi. Paguei vintão. E, além das unhas das mãos, resolvi também fazer um dos meus discursos anticasamento.

Só tinha mulher no lugar. Aproveitei que uma manicure – morena de cabelos encaracolados pintados de louro, na faixa dos vinte cinco anos, gorda e com cara de carente - tocou no assunto e lancei minhas teses. Falei que elas deveriam esquecer a história de casamento. Mas, se por acaso elas não resistissem e acabassem indo morar com alguém, que não tivessem a expectativa de que seria para a vida toda.

A mulata que fazia minhas unhas me olhou feio. Franziu o rosto magro e com rugas ao redor dos olhos – parecia a mais velha das funcionárias, perto dos cinquenta, imagino – e falou: “Mas como? Eu já tô casada há mais de dez anos”.

Respondi o óbvio: “Então tá na hora de separar”. Fiquei esperando a manicure não apenas arrancar um bife. Achei que ela fosse arrancar todos os meus dedos. Mas ela não fez isso. Levantou-se dizendo que precisava pegar um vidrinho de base masculina, que estava em falta mesa dela.

Continuei falando. Preguei o desfrute da liberdade de se relacionar com várias pessoas. Que dormir e acordar com a mesma pessoa durante anos e anos é um tédio. Mais ainda: os velhos são cada vez mais saudáveis e independentes. Portanto, já caiu a ideia de que a pessoa necessita de um parceiro na velhice. Bobagem. Há amigos, parentes, colegas, amantes e outras companhias para idosos. A gorda que puxou o assunto do casamento disse que fazia sentido. Só que deu o argumento clássico das mulheres: “É que a gente ainda é criada na expectativa de casar”.

Ouvi um som vindo de atrás da minha posição. Olhei para trás. Uma japa magra bronzeada - de saia curta preta e batinha cinza - fazia mãos e pés. Esmalte cor de amora tanto nos dedos de cima quanto nos de baixo. Ela comentou com as funcionárias que a atendiam: “Vou casar daqui a oito meses”. Ouvi. E emendei: “Ainda dá pra desistir”. O pessoal riu. Menos a minha manicure, que já tinha voltado e estava passando a base nos meus dedos. A japa não disse nada. A expressão facial dela não demonstrou irritação. Droga. Sou um psicopata verbal. Tenho prazer quando minhas palavras afetam as pessoas.

Na hora de pagar, perguntei se a moça do caixa – uma gordona, daquelas de cara bem redonda – era casada. Ela disse que sim. Lamentei. Até que fui educado. Eu deveria ter dito que no caso dela casamento é cabível. Ela não estava capacitada para arrumar muitos parceiros.

A manicure mulata que me atendeu continuou olhando feio pra mim na saída. É que eu não dei gorjeta.




domingo, 25 de janeiro de 2009

Chutar cachorro vivo

Tenho usado a força contra animais de estimação. E a coisa funciona. Cachorros e gatos ficam com medo de mim e param de encher o meu saco.

Um exemplo. Fui a um almoço na casa de uma das minhas várias tias. Esta é irmã do meu pai. Sempre que vou lá me desentendo com a cachorra da casa. O bicho se chama Sofia. Acho que é uma poodle. Tem aqueles pêlos finos encaracolados. Mas a cor dela é cinza, não branca.

Logo que eu entrei, Sofia começou a latir e pular nas minhas pernas. Pedi à neta da minha tia, uma menina de uns oito ou nove anos, para afastar a cadela de mim. Não fui atendido. Muito bem. Apelei para a violência. Coisa que deveria ter a feito nas minhas visitas anteriores a esta minha tia. Quando Sofia pulou de novo na minha perna, dei uma coxada nela. Joguei a cachorra longe.

Sofia não veio mais para perto de mim. Na saída, cruzei com o animal. A cadela se encolheu e encostou na parede. Gosto demais da sensação de provocar medo em alguém. Gente ou bicho.

Claro que não vou chutar ou coxar rotweiller e pitbull.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Comido por viados e baleias

Ando sendo devorado com os olhos por bichas magricelas e mulheres gordas. Pessoas de outras formas também me olham. Só que as secadas mais fortes são dos gays delgados e das balofas. Não correspondo aos assédios visuais. Mas me divirto bastante com a coisa.

Logo que comecei a ficar com um corpo decente – eu era um paquiderme de 111 quilos que agora está com 77 -, notei um monte de homem olhando para mim. Principalmente aquelas bichas fashionistas. Bem magras. Que usam calças – jeans pretos ou azuis bem escuros – muito justas. Secas, mesmo. As pernas de gente desse tipo parecem duas baguetes. Camisetas também bem apertadas. Muitas vezes são adornadas. Cabelos bem baixos ou arrepiados com gel. Outro traço marcante: óculos de acetato – ou algum outro material plástico – de aros bem grossos. A maioria deve ser de vendedores de lojas de marcas brasileiras de moda, tipo M.Officer e Ellus.

Comentei isso com uma amiga. Ela disse que um dos motivos pode ser o fato de eu ser elegante. Desde gordo eu sou muito ligado em roupas e acessórios. E agora que estou com uma forma física mais legal, a minha amiga acha que minha elegância se tornou ainda mais destacada. Sendo bichas fashionistas, faz sentido. Elas me medem de cima a baixo. Dão especial atenção ao meu abdômen. Não estou ainda com barriga de tanquinho. Mas está bem aceitável para quem me vê vestido. Claro que se sentem atraídos pelo rosto, em especial meus olhos azuis.

Mas eu penso que há um elemento a mais. As bichas fashionistas podem achar que sou da mesma turma delas. Minhas roupas ainda não são tão apertadas. Só que também não são folgadas. Faço de tudo para ter um visual o mais longilíneo possível. Passei a usar camisetas tamanho P – antes eram GG ou até mesmo XGG. Meus óculos são de acetato com aros azuis. Não são grossos, mas têm um toque fashion. Eu prefiro que desconfiem que sou viado a andar desleixado e maltrapilho. Não abro mão de certas viadagens.

Só que o assédio mais prazeroso tem sido o das gordas. Há poucos dias, no Shopping Villa-Lobos, em São Paulo, fui visualmente comido por duas obesas de uma vez só. Devem ser irmãs, pois são muito parecidas. Imagino que na faixa entre 23 e 27 anos. Gordas tipo maçã, redondas por inteiro. Aquela cabeça redonda, de almôndega. Olhos pequenos e pescoço escondido pelas banhas. Estavam agasalhadas, pois estava frio em São Paulo no dia.

Eu estava com uma malha azul – da tonalidade do azul da bandeira do Brasil – jeans azul-claro e mocassins azuis. A combinação faz com que meus olhos brilhem e chamem mais atenção do que normalmente chamam. As irmãs polpettone passaram por mim num dos corredores do shopping. A que aparentava ser a mais nova olhou ostensivamente para os meus olhos. Acho que ela cutucou a irmã, que também começou a me secar. Deixei que elas olhassem por uns dois segundos. Aí virei a cara. Só que diminui o passo para ouvir um possível suspiro ou comentário. E veio um comentário que validou todo o meu esforço em prol da estética pessoal. A que eu considerei a mais velha disse: “Só porque é bonito é metido”.

Poder praticar o esnobismo tem sido a maior recompensa de estar galã. Meu barato não é pegar mulher. Meu lance é recusá-las. Chegar numa roda de amigos e dizer que come todas é muito comum. Um clichê masculino. Não vejo graça nisso. Quero falar para os caras: “Desprezei quatro semana passada”.

Não me caracterizo pelo que faço. Mas sim pelo que eu não faço.