terça-feira, 23 de março de 2010

Espiritismo e cultura

Sou de classe média e há um bom número de espíritas nos círculos que frequento. Uma coisa me chama atenção: são, na média, pessoas de bom nível financeiro, mas culturalmente medíocres. Ou, se sabem bastante de alguma coisa, são péssimos comunicadores.

E o engraçado é que o espiritismo se vende como científico. Muitos dos adeptos com quem tenho contato falam que se trata de uma religião de conhecimento.

Quero saber como encontrar esta cientificidade. Falar em aprimoramento moral do espírito ao longo de várias vidas - tipo biologia evolucionista - é bobagem. Para ser científico tem de testar e comprovar.

Outra coisa que me intriga no espiritismo é o fato só ter alguma relevância no Brasil. Acompanho discussões sobre religião no mundo – no meu caso, com mais ênfase nos detratores da fé – e não vejo menção ao kardecismo.

Richard Dawkins, biólogo britânico e militante ateísta, apresentou uma série de documentários – exibida no Brasil pelo GNT, em 2009 - ouvindo vários líderes religiosos. Tinha católico, luterano, anglicano, batista, muçulmano xiita e sunita, judeu ortodoxo e mais liberal, até xintoísta apareceu. Mas nada de espírita. Se Dawkins não ataca, é porque não importa.

A explicação mais fácil é a de que as classes média e média-alta brasileiras não são cultas se comparadas com as de outros países, principalmente os mais desenvolvidos. Por isso abraçam a crença espírita, que fica sendo religião de gente com dinheiro mas sem repertório.

Mas recentemente vi no Canal Universitário de São Paulo uma entrevista de Edênio Valle, padre e professor do Departamento de Teologia e Ciências da Religião da PUC-SP. Valle pesquisa a relação entre psicologia e religiosidade. Na entrevista, ele disse que a Conscienciologia – uma doutrina filhote do espiritismo kardecista – se expande entre as classes mais altas da Europa e dos Estados Unidos. Esta tal de Conscienciologia se promove como ciência e diz estudar acontecimentos extracorpóreos.

Mais ainda: o professor da PUC-SP também ressaltou aquela minha percepção de que o nível cultural dos espíritas é de médio para baixo. Só que não sei quais motivos têm levado pessoas mais endinheiradas do mundo a entrarem na onda do espiritismo.

Os espíritas não são proselitistas chatos como evangélicos. Mas tem rolado uma encheção por conta do centenário de nascimento de Chico Xavier, símbolo da crença. Fica aquele nhenhenhém de exaltação da figura de Chico Xavier, que doou todos os direitos autorais sobre as vendas de seus livros para caridade.

Não tenho simpatia por abnegados. Se fosse para seguir alguém, seria gente que vive no luxo e no conforto. E claro que eu considero a doutrina espírita furada e absurda. Nada particular. Trato as demais religiões com o mesmo desprezo.

Sempre achei que copos não deveriam ser desperdiçados naquela brincadeira de chamar os espíritos.



Marcelo Amaral
e-mail: mcamaral@uol.com.br
blog: www.oinsensivel.blogspot.com
www.twitter.com/marcamaral






sábado, 13 de março de 2010

Conferência


PALESTRA
DEJE
DEBOCHE, EGOLATRIA, JACTÂNCIA E ESNOBISMO


DEBOCHE – O prazer da zombaria

- ERE – Escarnecer, Ridicularizar e Embaraçar
- Ironia e sarcasmo como forma de deleite
- Chegar ao êxtase pela provocação
- A importância de ser politicamente incorreto
- Iconoclastia: destruir reputações e mitos
- Deboche sensual: vida devassa e voltada para os vícios

EGOLATRIA – Eu sou a medida de tudo

- Liberalismo pessoal: eu precedo o coletivo
- Apologia do egoísmo/egocentrismo
- Orgulho
- Hedonismo: o prazer imediato é o que vale
- Consumir para satisfazer-se
- Tirar proveito das fraquezas e paixões dos outros

JACTÂNCIA – Modéstia é coisa dos fracos

- Vaidade é vida
- Cabotinismo: atrair as atenções
- Ser poderoso pela arrogância
- Imodéstia como instrumento de sex appeal

ESNOBISMO – A satisfação do desprezo

- A força do sentimento de superioridade
- A graça de humilhar
- Eu sou o padrão de gosto elevado
- Seduzir para esnobar

terça-feira, 9 de março de 2010

Sem bondade

Não tenho simpatia por muitas convenções sociais. Uma das que não aprecio é a saudação “bom dia”, “bom tarde ou “boa noite”. Não me vejo com a obrigação de desejar que o dia seja bom para alguém. Se vai ser bom ou ruim, problema de cada pessoa. Melhor ainda: problema de que como a mente de cada indivíduo vai processar os acontecimentos.

Ouço gente reclamar que subiu num elevador e ninguém deu “bom dia”. Ou mesmo por não retribuir o cumprimento. Carência total. Se o sujeito precisa que as pessoas - ainda mais desconhecidos - lhe saúdem, é porque está sofrendo.

Considero um “oi” ou aceno perfeitamente suficientes. Aliás, não necessito de nenhum gesto ou palavra para começar um dia, tarde ou noite.

Já sei o que a turma do “antigamente não era assim” vai dizer. Vão lamentar que hoje em dia as pessoas, sobretudo os mais jovens, são mal-educados. Não há mais cortesia. Tem outra: os humanos estão mais individualistas e não se preocupam com seus semelhantes. Queixas daqueles que não se conformam que o tempo passa e alguns costumes se modificam.

Acho excelente que as pessoas sejam mais individualistas. Que possam ficar voltadas para elas sem ter de observar certas convenções sociais. A pressão de ter de se adaptar a normas e procedimentos pode trazer muito mais dano psíquico do que a falta de “bom dia”.

Se há sensação de que o mundo está mais violento, não é por conta de individualismo exacerbado. É simples: tem mais gente no planeta atualmente. Quanto mais seres humanos, obviamente, mais conflitos.

O aspecto tempo também deve ser levado em consideração. A vida agora é bem corrida. E a necessidade de dar “bom dia” para todo mundo que encontra pode provocar atrasos.

Exemplo: dar bom dia aos guardas de uma portaria de condomínio faz com que a pessoa perca segundos na chegada às ruas do itinerário dela. E estes segundos vão representar mais carros pela frente e semáforos fechados. Resultado: atraso para reuniões de negócios e demais compromissos.

É esquecer o “bom dia” e cada um cuidando das suas coisas.