terça-feira, 22 de junho de 2010

Nada tradicional

Não sou simpático a tradições. Refiro-me mais especificamente a manifestações culturais como músicas regionais, danças e festas. O mais chato é que o rótulo de tradicional leva a uma imposição de curtir e participar de eventos. Se eu digo que não gosto, logo alguém pede respeito a antigos costumes.

É o caso de festa junina. Mesmo há muito declarando que não aprecio esse tipo de coisa, pessoas insistentes ou que pouco me conhecem ainda me convidam para alguma quermesse em junho e julho. Respondo a tais convites dizendo que não me atrai ficar em um ambiente que remete a caipirice. O mundo atual é urbano. E eu gosto disso. Áreas rurais servem para produzir alimentos e outros tipos de produtos para os consumidores das cidades.

Se bem que o rótulo de caipira tornou-se positivo. Aquela coisa da globalização: ao mesmo tempo em que espalha comportamentos similares para várias regiões do planeta, também aguça sentimentos provincianos. E caipira virou marca de pureza e generosidade frente ao suposto narcisismo e egoísmo dos habitantes das metrópoles.

É um clichê. A despeito da gritaria antiglobalização, ela possibilita mais contato entre culturas. Possibilita que as pessoas montem seus cardápios de identidades e estilos. As escolhas podem ser utilitárias – assumir-se índio para obter benefícios legais, por exemplo – ou por gosto. E, desta forma, certos costumes se chocam. Uns permanecem. Outros se modificam. E há os que morrem.

Tradições não precisam ser necessariamente preservadas. O fato de ser um costume antigo que atravessa gerações não garante nada. Se uma tradição tiver que ser esmagada, por força de mercado, que seja.

Exemplo: música sertaneja de raiz. Raiz é outro termo empregado para ganhar simpatia. Não tenho pena dos velhinhos caipiras de vozes esganiçadas que não conseguem mais espaço para seu tipo de música.

Já era. Muitos consumidores não querem saber deles. Colocaram no lugar o gosto pela música brega ou o sertanejo das duplas, com instrumentos eletrônicos e cantores com roupas apertadas e cabelos arrumados. Moda de viola fica para os saudosistas.

Festa junina de novo. Sei que é uma tradição que ainda sustenta. Muita gente me diz que vai por causa das crianças. Porque o filho, sobrinho ou afilhado vai dançar quadrilha. Mas adulto urbano se vestindo de caipira é demais.

Curto as tradições quando elas são superadas. Gosto de ouvir “antes tinha isso e aquilo, mas agora não tem mais”.





Marcelo Amaral

e-mail: mcamaral@uol.com.br