domingo, 16 de agosto de 2009

Moralismo exemplar


Não cobro comportamento modelar de astros pop e atletas célebres. Estes não devem ser tomados como exemplo para crianças e adolescentes. Se os famosos adotam uma vida considerada desregrada, problema deles. E azar ou sorte de quem os usa como referência. Educação é responsabilidade de pais, outros familiares delegados e profissionais da área.

Comentaristas esportivos deram para patrulhar jogadores de futebol. Recentemente, o atleta Leo Moura, do Flamengo, foi execrado pela imprensa por ter dito palavrões em direção à torcida do Flamengo, em um jogo contra o Náutico, no Maracanã. Moura estava sendo bastante vaiado pelos torcedores. E, ao fazer o gol de empate do Flamengo, saiu xingando. Depois, no dia seguinte, pediu desculpas.

O comentário mais frequente na mídia esportiva foi do tipo “Isso não é exemplo, imagine você está assistindo ao jogo com o seu filho e aparece um jogador xingando a torcida”. Questão simples. O pai que considera a atitude de Leo Moura inadequada deve explicar isto a seu filho.

Entendo que as pessoas devem ser educadas tomando contato com a realidade. E na realidade existem xingamentos. Há conflitos. Violência. Pessoas tomam atitudes intempestivas. Cabe ao orientador fornecer ferramentas para que o jovem analise as coisas que o cercam. Detecte o que é cultural, social e legalmente aceito. Claro que alguns transgredirão. Só que professores e educadores pagos para fazer com que seus alunos assimilem os conceitos desejados por quem os contrata.

Outro exemplo. Na academia que frequento o som, geralmente, fica ligado na rádio 89 FM. Uma emissora de São Paulo que toca música pop e eletrônica. Eu estava na bicicleta ergométrica e na 89 estava sendo entrevistada uma banda adolescente. Não sei o nome da banda. Em dado momento, um dos integrantes da banda disse “fico o dia inteiro na internet”. Um cara – sujeito na faixa dos 35 anos, imagino - que se exercitava perto de mim ficou furioso. Soltou: “Como que o moleque fala uma coisa dessas! A garotada que gosta da banda vai se espelhar e ficar o tempo inteiro no computador”.

Completa falta de leitura de mundo em função de um moralismo. Os componentes da banda ficam muito tempo no computador porque pertencem à geração da garotada. Tem mais: adultos também ficam muito tempo na internet. Tanto no trabalho quanto em casa. Computador é a ferramenta que media relações profissionais e pessoais na atualidade. Velhinhos ficam na rede. Não tem cabimento patrulhar os rapazes da tal banda. Até porque o garoto pode se dar muito bem no computador. Quem sabe se torna um programador bem-sucedido. Um blogueiro remunerado. Ou crie um site que bombe e depois acaba vendendo-o por milhões.

Outra coisa: quem quer proteger demais o filho vai acabar criando um idiota. A criança ou adolescente sem contato com a realidade vai ser muito ingênua. Quebrará a cara quando tomar contato com a crueza e os conflitos das relações sociais. Alguém bobo assim é muito mais vulnerável. E o moleque que quiser experimentar drogas, vai experimentar. Mesmo com a superproteção dos pais.

Eu estou ligado nas obras dos artistas e nas jogadas dos atletas. Acompanho, sim, a vida pessoal de alguns deles. Só que como diversão. Nada de ficar preso a moralismo comportamental.