quinta-feira, 19 de março de 2009

O bem é brega


É cafona chamar alguém de “do bem”. Isto se verifica observando as pessoas que são consideradas “do bem”. Trata-se, na maior parte dos casos, de gente malvestida. De cabelo ruim e desarrumado. Exemplo: Betinho, o sociólogo da campanha contra a fome.

Além do papo ingênuo – que é brega, porque denota falta de refinamento intelectual - de quem leva a sério as categorias de bem e de mal. E se distinguir por ser “do bem” deprecia. Significa que o cara chama atenção por honra, não por beleza física, bom gosto, inteligência, repertório cultural e talentos.

Estética e sofisticação precedem dignidade e retidão. Já mencionei o Betinho. Tudo bem que ele estava fisicamente debilitado pela AIDS, contraída por intermédio de transfusões de sangue em função de hemofilia. Mas aparecia na mídia com roupas puídas. Camisas de algodão vagabundo, que deixavam à mostra o tronco ossudo dele. As calças pareciam ser de tergal. Não dava vontade de ajudar.

Outro exemplo: vegan. Recusam-se a usar produtos compostos de matérias-primas de origem animal e acabam bem mal-ajambrados. Uma vez conheci uma garota desse tipo que usava umas sandálias com tiras feitas de barbante. Aquilo ficava sujo. Fora uns calçados de plástico – devia ser biodegradável, eles se ligam nessas coisas – e pano que certamente davam um puta chulé. Pior que existem roupas, sapatos e outros acessórios de couro sintético. Não entendo por que esse pessoal não se arruma.

Prefiro ser engambelado – se tiver que ser – por pessoas compostas. Uma mulher longilínea. Que veste vestido preto, terninho ou jeans casual-chic ajustados ao corpo dela. Faço questão que alguém assim tente me dar um golpe. Pode ser financeiro e até mesmo sexual.

Esse pessoal que se diz “do bem” ou é muito magro ou é bastante gordo. Há vegetarianos que por acharem imoral comer bicho se entopem de massas e doces. Terminaram parecendo porcos, elefantes ou gatos gordos. Comam peito de frango grelhado e fiquem alinhados, caramba.

Os cabelos também são lamentáveis. Todo ongueiro que vejo tem cabelo de aparência suja. E as mulheres “do social” nem se penteiam. Alisamento e escova para elas seriam a minha contribuição ao bem comum. A exceção é a Viviane Senna. Já era refinada e continuou depois que passou a comandar uma instituição beneficente.

Espero jamais ouvir ou ler “Marcelo Amaral é do bem”.





terça-feira, 10 de março de 2009

Revelação: por que emagreci

Perguntam-me por que eu resolvi emagrecer. Claro que a maioria vem com os clichês "Está apaixonado?" e "Tem mulher na jogada?". Vou revelar o que acontece. Há muitas mulheres na jogada. Várias. Mas não tem nada que ver com relacionamento e transa. Sou portador de autossuficiência afetiva e sexual. A questão é que quando eu estava gordo muitas mulheres viam em mim a figura de pai de família. Não sei bem os motivos. Não me interessa saber. O fato é, que em todos os meus círculos de convivência, a maior parte do mulherio dizia que eu tinha cara de bom marido e bom pai. Que merda.

Isso me incomodava. Podem achar o que quiserem de mim. Exceto duas coisas. Uma delas é essa de pai de família. A outra seria de bicho-grilo. Mas posso ficar tranquilo. Jamais aparentei ser bicho-grilo. Ando arrumado. E sou muito ligado em coisas materiais, principalmente artigos de luxo. Achei que se entrasse em forma - junto com esse meu pendor metrossexual - poderia destruir essa imagem de marido e pai. Queria ter cara de conquistador. De mulherengo. Até de viado. Contanto que me livrasse da percepção de "benzinho", "amor" e "papai".

As que me consideram reprodutor eram, na maior parte, gordas. Elas me viam com o par perfeito para formar com elas uma família moletom. Falo daquele casal que vai com os filhos sábado à tarde passear em algum shopping. A mulher, uma baleia, de conjunto de moletom rosa. Parece um bicho de pé. O doce bicho de pé. Só falta polvilhar açúcar refinado em cima. O marido de moletom cinza. Barriga caindo. As crianças também de moletom. Correndo. Entrando nas lojas. E os pais esbaforidos atrás. Eu queria sair fora dessa fantasia.

Parece que estou conseguindo me desvencilhar da cara de pai de família. Um exemplo. Há poucos dias encontrei com duas moradoras antigas do meu prédio. Conheço-as há mais de 20 anos. Uma divorciada, sem filhos. A outra casada desde de sempre com o mesmo homem, mãe de dois rapazes, na faixa dos 30 anos, um deles, trouxa, já casado. A casada sempre me pergunta quando vou casar. Nem precisei responder dessa vez. A divorciada mandou: "Agora que ele tá assim bonitão, cê acha que vai querer casar? Vai é curtir".

Quem sabe agora serei atacado por uma mulher pegadora. Não vai acontecer nada em termos sexuais. Sou frígido. Mas quero ser atacado.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Chatices espiritualistas


Não sou apenas misoteísta. Vou além do aborrecimento com discursos religiosos. Também sou antiespiritualista. Qualquer nhenhenhém sobrenatural me chateia. É um saco isso de buscar significado superior em tudo.

Sei que vão dizer que os seres humanos precisam acreditar em algum tipo de transcendência para suportar a vida. Argumentarão que mitos religiosos são fundamentais para erguer e preservar civilizações. Embora não se pode deixar de falar nas destruições em nome da fé.

Sem contar as bizarrices. Como a da dos conservadores contra o sexo. Os carolas afirmam que as catástrofes naturais são uma retaliação divina por conta da fornicação, do aborto e a boiolagem. Há ainda aquela mescla de cristianismo com marxismo, a Teologia da Libertação. Heloísa Helena diz que aprendeu socialismo na Bíblia.

Está pior agora com a onda new age. São os produtos espirituais vindos do Oriente. Tem gente com mania de saudar os outros com o termo hindu namastê. Quer dizer que o deus interior de um cumprimenta o deus interior do outro. Se alguém me mandar um namastê, vou tratar de me afastar. É caso grave de esquizofrenia. Porque além de achar que existe uma entidade dentro dele, acha que existe também uma dentro de mim.

Existem ainda as chinesices. Tipo feng shui. Como se a reorganização de móveis pudesse produzir transformações na vida de alguém. Entra na mesma categoria de crendice e charlatanismo de cartomancia e astrologia.

Outra coisa: as pessoas muito religiosas e espiritualistas que conheci são sensíveis e emocionalmente intensas. Os sensíveis quietos e retraídos – desde que não se transformem em sociopatas – até que passam. Mas os veementes são duros de conviver. Não aceitam ter suas crenças e opiniões contestadas. Consideram-se superiores, porque são sensitivas. Elas têm intuição. Enxergam além das coisas. Por isso se julgam detentores do monopólio da crítica, direcionada a materialistas como eu.

Têm valores espirituais elevados. São dotadas da capacidade de amar profundamente. Doam-se aos outros. Que nada. O intenso requer atenção o tempo inteiro. São carentes. Isso. Espiritualidade é carência. Transformam coisas simples, como beber água, em grandes eventos. E se o outro não entra na pilha dele – assista ao espetáculo da hidratação, perceba e comente como aquela comunhão cósmica do sensitivo com o líquido da vida – o sujeito fica puto. Considera o outro cara espiritualmente inepto.

Eu prefiro os valores monetários. Não troco meus relógios e minhas roupas pelo amor. Em vez de formar uma família, vou montar um home theater. Quando digo algo assim, os espiritualistas dizem que um dia vou olhar para trás e ver que não construí nada. Se eu quisesse construir alguma coisa, teria tentado virar engenheiro em vez de jornalista.

Eu gostaria que a evolução – falo de Biologia, de darwinismo - desse cabo da espiritualidade. Mas não acredito que isso aconteça. E se acontecer não será durante a minha vida, que é o período que me interessa. Vou ter de mesmo de suportar gente que acha ter alguma importância para o Universo.