segunda-feira, 2 de março de 2009

Chatices espiritualistas


Não sou apenas misoteísta. Vou além do aborrecimento com discursos religiosos. Também sou antiespiritualista. Qualquer nhenhenhém sobrenatural me chateia. É um saco isso de buscar significado superior em tudo.

Sei que vão dizer que os seres humanos precisam acreditar em algum tipo de transcendência para suportar a vida. Argumentarão que mitos religiosos são fundamentais para erguer e preservar civilizações. Embora não se pode deixar de falar nas destruições em nome da fé.

Sem contar as bizarrices. Como a da dos conservadores contra o sexo. Os carolas afirmam que as catástrofes naturais são uma retaliação divina por conta da fornicação, do aborto e a boiolagem. Há ainda aquela mescla de cristianismo com marxismo, a Teologia da Libertação. Heloísa Helena diz que aprendeu socialismo na Bíblia.

Está pior agora com a onda new age. São os produtos espirituais vindos do Oriente. Tem gente com mania de saudar os outros com o termo hindu namastê. Quer dizer que o deus interior de um cumprimenta o deus interior do outro. Se alguém me mandar um namastê, vou tratar de me afastar. É caso grave de esquizofrenia. Porque além de achar que existe uma entidade dentro dele, acha que existe também uma dentro de mim.

Existem ainda as chinesices. Tipo feng shui. Como se a reorganização de móveis pudesse produzir transformações na vida de alguém. Entra na mesma categoria de crendice e charlatanismo de cartomancia e astrologia.

Outra coisa: as pessoas muito religiosas e espiritualistas que conheci são sensíveis e emocionalmente intensas. Os sensíveis quietos e retraídos – desde que não se transformem em sociopatas – até que passam. Mas os veementes são duros de conviver. Não aceitam ter suas crenças e opiniões contestadas. Consideram-se superiores, porque são sensitivas. Elas têm intuição. Enxergam além das coisas. Por isso se julgam detentores do monopólio da crítica, direcionada a materialistas como eu.

Têm valores espirituais elevados. São dotadas da capacidade de amar profundamente. Doam-se aos outros. Que nada. O intenso requer atenção o tempo inteiro. São carentes. Isso. Espiritualidade é carência. Transformam coisas simples, como beber água, em grandes eventos. E se o outro não entra na pilha dele – assista ao espetáculo da hidratação, perceba e comente como aquela comunhão cósmica do sensitivo com o líquido da vida – o sujeito fica puto. Considera o outro cara espiritualmente inepto.

Eu prefiro os valores monetários. Não troco meus relógios e minhas roupas pelo amor. Em vez de formar uma família, vou montar um home theater. Quando digo algo assim, os espiritualistas dizem que um dia vou olhar para trás e ver que não construí nada. Se eu quisesse construir alguma coisa, teria tentado virar engenheiro em vez de jornalista.

Eu gostaria que a evolução – falo de Biologia, de darwinismo - desse cabo da espiritualidade. Mas não acredito que isso aconteça. E se acontecer não será durante a minha vida, que é o período que me interessa. Vou ter de mesmo de suportar gente que acha ter alguma importância para o Universo.






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