Jorginho pediu respeito por ser cristão. O contexto foi o seguinte. Após a eliminação do Brasil na Copa de 2010, a imprensa esportiva apontou Jorginho como mentor do regime militar – muita concentração, pouco contato com a mídia e torcedores – adotado pela Seleção Brasileira na África do Sul. E entre as questões levantadas estava um possível favorecimento aos evangélicos no time brasileiro.
Exemplo: Jorginho levou para a comissão técnica um observador, Marcelo Cabo, considerado inexperiente para a função de estudar os adversários da equipe brasileira. Apesar da pouca rodagem, Cabo teria sido levado por ser da mesma igreja de Jorginho. O ex-auxiliar disse que a escolha não tinha a ver com religião. Daí a história de ser perseguido e pedir o tal respeito.
Kaká também quer ser respeitado, assim como ele, segundo o próprio, respeita os ateus. O alvo de Kaká foi o jornalista Juca Kfouri, crítico contumaz do merchandising religioso de alguns jogadores.
Tenho problema com a ideia de respeito quando se trata de crenças e opiniões. Expor desaprovação e contrariedade em relação a um credo religioso não constitui desrespeito.
Falta de respeito seria impedir que alguém exerça sua fé. Kaká não tem sido proibido de comemorar os gols apontando os dedos indicadores para cima, olhando para o céu e dizendo “Obrigado, Senhor”. Jorginho também pode rezar o quanto quiser. No ambiente do futebol ou fora dele.
Os evangélicos despertam, sim, antipatia em algumas pessoas. Algo totalmente cabível em função do comportamento e das estruturas de comunicação de massa que possuem.
Neopentecostais são fervorosos. As demonstrações de fé são efusivas. É sempre “Jesus, isso” e “O Senhor aquilo”. Possuem espaços e redes de televisão para divulgar em larga escala sua doutrina e para fazer proselitismo. Elegem bancadas legislativas para aprovar leis – como benefícios fiscais às igrejas – e barrar outras.
E é claro que um segmento com o poder – cada vez maior – político e midiático alcançado pelos evangélicos chateia muita gente. Assim como acontece com grandes empresas, instituições e pessoas muito presentes.
Os futebolistas são expoentes do neopentecostalismo no Brasil. Então, que aguentem os desdobramentos disso. Serão queridinhos de seus colegas de fé, mas desaprovados por outros.
Não é todo mundo que vai achar graça nos jogadores comemorando títulos vestindo camisetas com a inscrição a “I belong to Jesus” em vez das camisas dos clubes ou seleções.
Tanto que a Fifa tratou de enviar um comunicado às seleções – tendo como alvo principal o Brasil –, antes da Copa do Mundo da África do Sul, pedindo que atletas não exibissem mensagens comerciais, políticas e religiosas durante os jogos do Mundial. Não o fez de forma de peremptória para não caracterizar cerceamento de liberdade religiosa.
Ser evangélico neopentecostal ainda é coisa de pobre no Brasil. Mesmo que tenha conquistado adeptos entre membros das classes mais abastadas, este segmento ainda é visto como muito povão. E quem tem mais dinheiro e instrução ao virar evangélico acaba por receber a pecha de bobo. Alguém que se deixa enganar por pastores que querem apenas enriquecer.
Não importa se o rótulo é injusto. Funciona assim: ser evangélico, no Brasil, ainda é falta de gosto. Mesmo com Kaká sendo originalmente de classe mais alta, ter aparência de galã e se vestir com roupas de Giorgio Armani.
Fica sendo o tonto que dá milhões de euros aos donos – que foram presos nos Estados Unidos e respondem vários processos no Brasil - da igreja Renascer em Cristo. E que ainda defende os pastores, dizendo que são vítimas de campanha orquestrada pelo Inimigo.
Evangélicos não são perseguidos. Eles que é perseguem os outros com tanta pregação. E aí, claro, despertam muita antipatia.
Marcelo Amaral
e-mail: mcamaral@uol.com.br
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