terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A importância da futilidade

Sou ligado em vaidade. É que não tenho disposição para aquela conversa de buscar a essência das pessoas e das coisas. Gosto das aparências. Valorizo bastante a aparência física, do vestuário. Também aprecio outras formas de vaidade. Considero a humildade enfadonha.

Há poucos dias cometi uma descortesia em um grupo virtual. Enviei uma mensagem dizendo: “Será que estamos livres das mensagens de tal pessoa?”. Uma participante - que não era o meu alvo - avaliou minha atitude como “no mínimo deselegante”.

Respondi que não posso ser chamado de deselegante. Uso ternos de corte contemporâneo, mais ajustados ao corpo. Tenho também meus relógios e perfumes de marca. Claro que eu estava sendo irônico. Só que a pessoa levou a sério. Reagiu com a aquela coisa de que o que importa é a essência das pessoas e não o que elas vestem.

Este moralismo da essência não se confirma na realidade. Aparência conta muito.

Em uma seleção de emprego, numa companhia que adota roupas sociais, um candidato trajado de costume cinza-escuro alinhado, camisa azul-clara e gravata preta com listas em cinza, claramente, sai na frente de um outro com terno marrom-claro, camisa amarela amarrotada e gravata vermelha desbotada. Só o Antônio Ermírio de Moraes pode se vestir assim.

E nem precisa ser uma roupa de grife. Basta que ela se pareça com uma de marca.

Quem se veste bem ganha facilidades no cotidiano. Os outros – vendedores, frentistas e outros – pensam que o sujeito tem dinheiro e oferecem um tratamento melhor. Até porque vislumbram uma possibilidade de receberem uma boa gorjeta, como no caso dos atendentes dos postos de gasolina.

Quando se combina beleza e elegância no vestir, fica melhor ainda. Sou míope e recentemente passei a usar lentes de contato em vez de óculos na maioria das vezes que saio de casa. Informação: tenho olhos azuis.

Passei a ter meus pedidos processados e entregues mais rapidamente nas cafeterias que frequento. Vendedoras e alguns vendedores têm sido mais solícitos e prestativos comigo. E constantemente tenho de responder se meus olhos são mesmo azuis ou se são lentes de contato coloridas. Tem mais gente querendo puxar papo comigo, em várias ocasiões.

Gosto mesmo de roupa. Tanto que não curto ver gente pelada. Se alguém está vestido de um jeito que me agrada, não quero que a pessoa tire aquela produção. E, se está malvestida, torço para que ela mude a composição. Eu mesmo reluto em me desmontar quando estou com um look que me deixa bem.

Gente feia e mal-ajambrada é que precisa recorrer à essência. Até porque a oferta para elas é restrita. A não ser que seja rico e os outros saibam disso.

Tudo é aparência. Produtos de luxo têm seus preços determinados mais pelo que aparentam oferecer do que pela qualidade material – embora ela exista, é claro. Pessoas famosas têm suas imagens exploradas.

Tenho um defeito sério. Prefiro o “é” ao “deveria ser”. Por isso adoto e exploro a futilidade.





Marcelo Amaral


e-mail: mcamaral@uol.com.br


blog: www.oinsensivel.blogspot.com


www.twitter.com/marcamaral

4 comentários:

  1. Concordo com a parte dos olhos azuis, também sinto que os meus são facilitadores...Agora, dizer que não curte gente pelada? Isso soou um tanto assexuado!hehe

    ResponderExcluir