terça-feira, 22 de março de 2011

Sou inútil

Aborrecem-me as exortações para que eu sempre “esteja fazendo” alguma coisa. Sobretudo quando tais recomendações vêm qualificadas como coisas úteis e produtivas.

Sendo um sujeito preguiçoso, antiespiritualista e antirreligioso, não coaduno com a ideia de que alguém tem de ser útil para a sociedade. As pessoas trabalham por uma questão de sobrevivência. Não há nada de especial.

Aliás, tenho preguiça de gente que se envolve em muitas atividades. São pessoas chatas e sufocantes. Isto porque querem impor sua agitação ao outros. Pior: condenam moralmente quem consegue ficar – mesmo que seja por um curto período – sem fazer nada.

Sei que a vida contemporânea é atribulada. Claro que muita gente acaba atrelada a vários compromissos. Mas penso que os indivíduos são atarefados por que querem.

Tem o trabalho, tudo bem. Só que dá para se livrar de responsabilidades familiares. Basta não formar uma família. Pode-se optar por não ter filhos. Quem tem, sabe que eles vão demandar tempo e esforço.

E ter mais de um filho atualmente é coisa de crente, pobre ou celebridade, tipo Angelina Jolie.

Há a alternativa de ser uma mãe ou um pai relapsos. Aí dá para ficar na moleza. Ou então vai ter mesmo de esperar os filhos ficarem adultos. Mas aí podem vir os netos, que serão deixados sob os cuidados dessas pessoas atarefadas.

Mais: tem gente que, além de trabalho e família, se mete com igrejas, clubes e associações. Se sujeito tem necessidade emocional de estar no meio desses agrupamentos, problema dele. Não pode reclamar da correria.

Sou alguém que não quer nada com a vida.





Marcelo Amaral


e-mail: mcamaral@uol.com.br


blog: www.oinsensivel.blogspot.com


www.twitter.com/marcamaral































































































quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Calor não é humano

Sou contra o verão. Clima quente significa incivilidade para mim. É inteiramente arbitrária a exaltação do sol e calor. No meu caso, tempo bom é abaixo de vinte graus.

Logo de cara, considero calor incivilizado por atentar contra a decoração pessoal. O suor provocado pela temperatura elevada destrói um visual. A roupa fica molhada. O usuário fica incomodado e começa a se mexer. O vestuário acaba amarrotado e desfigurado.

Mulheres são atingidas pelo calor na maquiagem. Algumas precisam muito de corretivos e outros artifícios para melhorar a apresentação. Só que o tal tempo bom dos boletins meteorológicos derretem a produção no rosto.

Há ainda o cheiro. Mesmo quem realiza higiene adequada e usa perfumes e desodorantes efetivos pode terminar malcheiroso num dia quente. E disfarçar o cheiro é um traço distintivo do ser humano em relação aos outros animais.

Não há disponibilidade de ar refrigerado em todos os lugares. Em algum momento o sujeito vai ficar ao ar livre. Tem de sair para almoçar ou para uma reunião fora de sua base, entre outras coisas. Aí é bombardeado pelo ar quente.

Não se trata de algo banal. Um look bagunçado pelo calorão traz prejuízos. Nódoas de suor nas axilas resultam em perdas de chances de empregos e negócios. Encontros pessoais e sexuais são cancelados ou interrompidos por conta de uma roupa melada, uma falha na maquiagem ou um odor desagradável.

Tem mais. Calor potencializa o mau gosto e a falta de senso de ridículo. Gente gorda resolve usar bermuda e camisa regata. Aí deixam aquelas banhas dos braços e das coxas à vista. Há quem ache que tem de usar roupa colorida por causa do verão e fica aberrante.

A teoria que o clima afeta o desenvolvimento dos países pode até ser reducionista. Mas é fato que, até agora, os mais ricos são mais frios que os mais pobres. Alguma coisa tem que ver.

Só que o culto ao calor também é simplificador. Começa pela história de chamar de tempo bom quando está quente e ensolarado. Para pessoas como eu temperatura elevada e tempo aberto não trazem alegria nenhuma.

E tem aquele nhenhenhém de incluir o clima tropical com componente da brasilidade. Assim como não gosto de caipirinha, feijoada e samba, detesto o calor.

Compor um visual é um pilar da civilização. E o calor atrapalha a tentativa de um ser humano se tornar melhor apresentável.







Marcelo Amaral


e-mail: mcamaral@uol.com.br


blog: www.oinsensivel.blogspot.com


www.twitter.com/marcamaral































terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Adoro segunda-feira

Detesto o período entre a segunda quinzena de dezembro e o início de janeiro.

Não é só pelas chatices de Natal e Ano Novo. Aquelas mensagens piegas de “muita luz” e “muita paz”. Tem também toda uma imposição de entrar num clima de confraternização. Pior ainda são os pedidos de caixinha.

Mas até que consigo suportar. Basta não responder ou enviar mensagens natalinas. E ignorar as requisições de grana. Meu problema é que para quase tudo que eu mais gosto por conta do Fim de Ano e das Férias de Verão.

Fica sem futebol na televisão. O Campeonato Brasileiro termina no começo de dezembro. Exceto pelo Campeonato Inglês, que tem jogos logo após o Natal e inclusive no primeiro dia do ano, os certames europeus têm recesso para as Festas. Aí eu fico desorientado.

A coisa só pega de novo a partir da segunda quinzena de janeiro, quando começam as competições no Brasil. E ainda são os campeonatos estaduais, que para mim já são ultrapassados e não valem muito.

Os canais também suspendem a exibição dos episódios inéditos das séries que acompanho. Comecei a ver Law & Order: Los Angeles. Foram apenas quatro episódios e já interromperam a temporada por causa do fim de ano. House só volta com os novos capítulos em fevereiro.

Quem não tem saco para ver as reprises, acaba se dando mal. Quando os canais voltarem com os inéditos, eu já não lembro mais de coisas importantes que aconteceram e provocaram desdobramentos nos episódios seguintes. Fico perdido.

Muitas vezes tirei férias em agosto ou setembro. E não pararam as temporadas das séries por causa disso. Muito menos suspenderam os jogos.

Quer descansar no fim e início de ano, arque com as consequências. Além de pegar congestionamento, muvuca e falta d’água nas praias – falo mais especificamente dos paulistanos, que reclamam de São Paulo e saem dela justamente no período em que a cidade fica mais transitável – tem de ficar para trás nas séries e no futebol, como eu ficava em agosto ou setembro. Se bem que eu tirava férias para ficar em casa, dormindo e vendo televisão.

Se fosse possível eu contrataria o escritório de advocacia da já encerrada série de humor negro Boston Legal (Justiça Sem Limites) – que pegava causas bizarras e esdrúxulas - e entraria com uma ação contra os canais de TV. A paralisação da exibição dos novos capítulos das séries representa um dano moral para mim.

Ouvi no programa Saia Justa, do GNT, a sugestão de celebrar o Natal a cada dois anos. Mais ainda: de quatro em quatro anos, como Copa do Mundo. Eu proponho a cada 10 anos. Só peço que mantenham anuais as liquidações.

Meu Natal é uma segunda-feira útil, cinzenta e fria.







Marcelo Amaral

e-mail: mcamaral@uol.com.br

blog: www.oinsensivel.blogspot.com

www.twitter.com/marcamaral