quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Insensibilidade educativa

Passei a noite de Natal na casa de uma tia. Havia quatro velhotas: minha tia dona da casa, minha mãe e outras duas tias solteironas. Todas com 70 anos ou mais. E mais dois casais - meu primo e minha prima com seus respectivos cônjuges - com filhos. Duas crianças. Uma de cinco anos e outra de um ano e alguma coisa.

Tédio total. Só valeu pela torta holandesa de sobremesa. Minha tia dona da casa e a nora dela são muito boas na cozinha. A partir de amanhã, dia 26 de dezembro, vou tratar de queimar na esteira as duas fatias que comi.

O pior foi ter de aturar as crianças com seus presentes. O menino de cinco anos ganhou uns 10. Mais de metade eram carrinhos. O que ele mais gostou foi um de controle remoto, um tipo Mitsubishi Pajero - branco, cheio de adesivos - de rally. O moleque chato resolveu brincar com o carrinho na sala. É um apartamento grande, com um corredor de entrada razoavelmente grande. Mas as velhinhas ficavam "Vem cá mostrar o carrinho novo".

E o garoto aproveitou. O carrinho cruzava a sala batendo nos sofás, poltronas, cadeiras e na mesa de jantar. O menino gritava "Olha, bateu!". O que mais me chateiam nas crianças é que elas tornam os adultos mais infantis que elas. Principalmente, as mais velhas. Minhas tias e minha mãe repetia tudo que o molequinho falava. Ele dizia "O farol acende" e as quatro faziam eco "O farol acende". Os pais do guri aproveitaram para descansar dele, uma vez que tinham quatro babás à disposição naquele momento. Os responsáveis pela menina de um ano e pouco cuidavam da garotinha. E eu torcia para aquele carrinho se chocar fortemente com um pé de cadeira ou de mesa e quebrar. Talvez teria de tolerar um pouco de choro do menino, mas logo ele pegaria outro dos brinquedos que ganhou e esqueceria.

Mas a coisa só piorou. O menino exigiu que todos que estavam sentados nos três sofás e nas poltronas levantassem as pernas para o carrinho dele passar. O brinquedo circulava e as tiazonas continuam repetindo as falas do moleque. Agora o coro era de "Ehhh!".

Resolvi resistir. Não levantei minhas pernas. E ainda falei para o garoto: "Vai ter de manobrar seu carrinho". Tem mais. Eu disse que não queria o brinquedo batendo nos meus pés. Além de incomodar, estragaria meus mocassins novos cor café. As velhas diziam "Brinca com ele, Marcelo". Respondi: "Não. Ele que aprenda a mexer nesse carrinho e contorne meu pé".

O moleque não é trouxa nem ingênuo quanto pensam a avó, as tias e os pais. Ele procurou manobrar o carrinho. Deu umas batidas no meu pé esquerdo. De leve. Chamei a atenção dele. O guri deu ré no Mitsubishi, que bateu na base da cadeira de balanço da avó dele.

Depois de algumas tentativas, o molequinho desistiu. Pegou o carrinho com a meu esquerda - o controle estava na direita -, levantou o brinquedo e foi brincar no espaçoso corredor de entrada.

Estou pensando em abrir uma pré-escola.

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