domingo, 24 de janeiro de 2010

Adultos versus adolescentes

O IMAPEC - Instituto Marcelo Amaral de Pesquisas Comportamentais - tem como um dos seus principais pontos de observação a moda. Chama atenção o fato de homens adultos estarem se vestindo como adolescentes. A saber: tênis cabeção - com uma biqueira de plástico ou de borracha, tipo All Star-, calças e bermudas largas estilo streetwear e boné. Agora parece fazer sentido a reclamação de muitas mulheres de que falta homem no mercado. Só a escassez explica o fato de parte do mulherio acima de 25 anos se sujeitar a andar com caras mal ou inadequadamente vestidos.

Eu tenho muitos comportamentos adolescentes. Alguns até pré-adolescentes. O mais gritante deles é ainda ser financeiramente dependente dos meus pais. Moro com eles e não faço nada para mudar a situação. Até porque sou o filho único, portanto herdeiro único. Mas, em matéria de estilo, sou adulto. Gosto de alfaiataria - roupas sociais. Visto terno - às vezes até gravata - para ir tomar café em um shopping ou na Starbucks mais perto da minha casa. Não tenho necessidade de usar roupa social, já que estou desempregado e não ando frequentando entrevistas de emprego.

Só que gosto de estar alinhado. Uniformes militares - de bombeiro, PM ou soldado - não me despertam interesse. Acho brega. Não só a roupa como as ideais de disciplina, honra e heroísmo envolvidas com os milicos. Quando não estou em estilo executivo, opto por roupas casuais de tecidos mais sofisticados, como sarja. Uso jeans, sim. Mas com menos frequência do que o esperado para um cara de 33 anos da atualidade.

Reparo muito nos casais. Sobretudo nas roupas. As mulheres na maioria das vezes estão bem vestidas. Mesmo em situações de lazer. Na Starbucks que já citei vi um grande exemplo. Era uma casal composto de pessoas, imagino, na faixa dos 30 e poucos anos. Um sábado, agora em janeiro, temperatura em torno de 30 graus. A mulher estava de vestido curto azul-marinho. Sandálias de salto com tiras estilo gladiador de cor creme - cor da pele, no caso dela. Brincos de argola. E o cara estava de calção esportivo - que se deve usar para jogar bola ou para dormir - e uma camiseta surrada com estampa alusiva a esportes radicais. O tênis era um Adidas verde - cor de maconha - cabeção. Imaginei: "Uma mulher deste naipe pode conseguir um cara mais arrumado".

Minha pergunta: caras arrumados estão em baixa? Não sirvo como parâmetro. Sou um bonitão frígido e biopsicologicamente inadequado para relacionamentos. Se fosse só no meu caso, tudo bem. Mas vejo que a coisa está mais disseminada. Tenho visto muitos casais de mulher arrumada - o que é normal - com caras absurdamente largados. Outra pergunta: a oferta estão tão baixa que a mulher tem de se contentar com qualquer desleixado que apareça?

Entre homens rola uma tese - forte - de que mulheres muito bonitas e gostosas e muito bem arrumadas são ruins de transa. São mais preocupadas com a aparência delas do que com prazer, dos parceiros e até delas mesmas. São mesmo troféus. Valem como marketing. Para serem exibidas aos amigos. Mas, para transa, as feias funcionam melhor. É que embagulhadas se esforçam mais para agradar, já que, em teoria, têm menos chances de arrumar parceiros.

Então para homens vale a mesma coisa? Os mais arrumados são piores de cama? Eu sou péssimo.

Agradeço a quem pudar me oferecer seus pontos de vista sobre tais questões.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Patrulha da sensibilidade


Não me comovo com catástrofes como o terremoto no Haiti. Tremor de terra de sete graus na escala Richter em país pobre resulta mesmo em destruição, milhares de mortos e caos social. Não sinto pelo câncer de Hebe Camargo. Quanto mais alguém avança na idade, mais chance tem de desenvolver tumores malignos. Hebe tem um filho chamado Marcelo. Mas não sou eu. Não herdarei nada dela. Não fico triste por ninguém. Assim como não fico feliz por ninguém.

Claro que o padrão humano é demonstrar emoções. Mas existem pessoas cujos organismos não produzem expressões sentimentais. Tal tipo de gente é catalogada por psiquiatras como portadora de Transtorno Esquizóide de Personalidade. Como gosto de nomes mais simples, eu uso TFE – Transtorno de Frieza Emocional. Atenção aos assustados: ainda não existe tratamento eficaz conhecido para o distúrbio. Até porque não se sabe se é doença ou apenas uma modalidade de personalidade.

Há também a confusão entre esquizoidia e psicopatia. Aliás, psicopatia ou sociopatia agora se recebe o nome de Transtorno de Personalidade Antissocial. Esquizóide tem menos tendência para o crime que os antissociais. Eu preferia ser psicopata, que consegue desenvolver capacidade de simular sentimentos para manipular pessoas. Eu daria golpes financeiros.

Meu ponto é o seguinte: se os emocionalmente embotados são obrigados a tolerar discursos melosos, os sensíveis também devem tolerar as manifestações de impassibilidade.

Eu não me comover com as vítimas do terremoto do Haiti não muda nada a situação dos atingidos. Quem morreu já era mesmo. E o trabalho de encontrar os sobreviventes cabe às equipes de resgate. Quem quiser rezar, que ore. Mas não queira que eu faça a mesma coisa. Não quero manteiga derretida escorrendo em cima de mim.

O mesmo vale para Hebe Camargo e outros doentes de câncer. A coisa é problema de médicos e familiares. Qualquer comentário meu é completamente inócuo.

Só que prefiro tratar da sensibilidade emocional nas situações cotidianas. Recentemente, eu estava em uma das lojas da C&A e com um prima. Ela procurava uma camisola da Barbie para uma filha de uma amiga dela. Uma funcionária da loja se aproximou da gente e perguntou se tínhamos o cartão da C&A. Minha prima respondeu que sim. Eu disse que não. A atendente questionou se eu gostaria de fazer o cartão e obter as vantagens – descontos, prazo e parcelamentos. Falei: “Não. Não gosto das roupas da C&A”. Minha prima desaprovou meu comentário. Disse que a moça poderia ficar chateada.

Meu tom de voz sequer foi agressivo. E a minha falta de apreciação pelos produtos não produzirá efeito nos negócios da C&A. Até porque, pelo que observo, a rede de lojas está aumentando. Quanto à funcionária, faz parte do trabalho dela ouvir comentários negativos. Alguns até raivosos e coléricos, o que não foi o caso do meu.

Outra coisa: os sensíveis não são necessariamente os mais fofos. Pessoas emocionalmente intensas – que se envolvem demais com outras pessoas ou projetos – são capazes de barbaridades quando veem suas expectativas frustradas. A ficção oferece bons exemplos. Um deles é o romance O Pau, de Fernanda Young. O livro descreve um sessão de tortura perpetrada por uma mulher ao namorado, motivada pela descoberto de infidelidade da parte dele. Os casos mais graves são chamados de Transtorno de Personalidade Borderline ou Limítrofe.

Os sensíveis desejam conquistas pessoais, profissionais e amorosas. Eu desejo zombar de tudo isso. É a minha natureza humana.






domingo, 3 de janeiro de 2010

Falta de gosto

Considero a esperança um sentimento extremamente brega. Digo isto por conta do rótulo de frustração dado aos resultados da COP15, a reunião sobre clima, promovida pela ONU, em Copenhague, no final de 2009. Só gente ingênua e malvestida de ONG ambientalista para achar que uma conferência da ONU – sobre o que for – pode salvar o planeta.

Apelos ingênuos ao sentimento pela preservação do planeta não funcionam. Há a questão política. Os governantes dos países respondem primeiro ao seu público interno, seus eleitores.

Um presidente ou primeiro-ministro pode até adotar um discurso verde para fora. Mas ele não pode tomar medidas que prejudiquem de imediato a indústria – redução de emissões – e a agricultura – redução de rebanhos - de seu país apenas porque uma turma de bicho-grilo grita que o mundo vai acabar amanhã. O Brasil perderia muito dinheiro se deixasse de desmatar para plantar soja e criar gado. Dizem que os gases liberados pelos bois são bem poluentes. Mas alimentação e balança comercial estão à frente.

Outra coisa é desconsiderar a natureza humana. Gente é bicho. Age por impulsos e instintos. As pessoas não vão parar de desejar. E mais: de realizar os desejos.

Quero ver alguém convencer um chinês – ou qualquer outro habitante do planeta que tenha aumentado a renda e o poder de compra – que, agora que ele tem grana para comer carne, não vai poder porque a criação de gado e o processamento da carne favorecem o aquecimento global. Só dá para fazer isso com muita violência. E mesmo a China não fará isso. Ela quer mais, é claro, que seu mercado aqueça junto com a Terra, se for o caso.

Produtos ecologicamente corretos só vingarão se forem eficazes e financeiramente acessíveis. Não vou trocar meu carro a gasolina – ou mesmo bicombusível, gasolina e álcool – por um elétrico lento e com pouca autonomia somente porque dizem que daqui a 100 anos, talvez, a vida no planeta comece a ficar caótica.

Sequer há certeza de que o aquecimento global foi mesmo produzido por ação humana. E não importa de quem é a culpa. A natureza continuará a ser sugada e modificada. Com ou sem interferência do homem.

A ideia de salvação deve ser abandonada. Tanto por refinamento quanto em termos de leitura da realidade. Eu vou usar – água, combustíveis fósseis e animais – enquanto estiverem disponíveis. E no volume que meus desejos e minha grana permitirem.

Se o mundo acabar, acabou e pronto. Essa história de que mundo deixar para filhos e netos é balela. O único legado que pais proporcionam aos filhos é a morte
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