Considero a esperança um sentimento extremamente brega. Digo isto por conta do rótulo de frustração dado aos resultados da COP15, a reunião sobre clima, promovida pela ONU, em Copenhague, no final de 2009. Só gente ingênua e malvestida de ONG ambientalista para achar que uma conferência da ONU – sobre o que for – pode salvar o planeta.
Apelos ingênuos ao sentimento pela preservação do planeta não funcionam. Há a questão política. Os governantes dos países respondem primeiro ao seu público interno, seus eleitores.
Um presidente ou primeiro-ministro pode até adotar um discurso verde para fora. Mas ele não pode tomar medidas que prejudiquem de imediato a indústria – redução de emissões – e a agricultura – redução de rebanhos - de seu país apenas porque uma turma de bicho-grilo grita que o mundo vai acabar amanhã. O Brasil perderia muito dinheiro se deixasse de desmatar para plantar soja e criar gado. Dizem que os gases liberados pelos bois são bem poluentes. Mas alimentação e balança comercial estão à frente.
Outra coisa é desconsiderar a natureza humana. Gente é bicho. Age por impulsos e instintos. As pessoas não vão parar de desejar. E mais: de realizar os desejos.
Quero ver alguém convencer um chinês – ou qualquer outro habitante do planeta que tenha aumentado a renda e o poder de compra – que, agora que ele tem grana para comer carne, não vai poder porque a criação de gado e o processamento da carne favorecem o aquecimento global. Só dá para fazer isso com muita violência. E mesmo a China não fará isso. Ela quer mais, é claro, que seu mercado aqueça junto com a Terra, se for o caso.
Produtos ecologicamente corretos só vingarão se forem eficazes e financeiramente acessíveis. Não vou trocar meu carro a gasolina – ou mesmo bicombusível, gasolina e álcool – por um elétrico lento e com pouca autonomia somente porque dizem que daqui a 100 anos, talvez, a vida no planeta comece a ficar caótica.
Sequer há certeza de que o aquecimento global foi mesmo produzido por ação humana. E não importa de quem é a culpa. A natureza continuará a ser sugada e modificada. Com ou sem interferência do homem.
A ideia de salvação deve ser abandonada. Tanto por refinamento quanto em termos de leitura da realidade. Eu vou usar – água, combustíveis fósseis e animais – enquanto estiverem disponíveis. E no volume que meus desejos e minha grana permitirem.
Se o mundo acabar, acabou e pronto. Essa história de que mundo deixar para filhos e netos é balela. O único legado que pais proporcionam aos filhos é a morte.
domingo, 3 de janeiro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Marcelo, como sempre, arguto observador da verdade. Um abraço, Ivan Scarpelli.
ResponderExcluir