domingo, 7 de fevereiro de 2010

Jornalista não presta

Os normais – gente com cérebro que produz muita poesia, como aspirações, sonhos e envolvimento em causas individuais ou coletivas – têm orgulho da atividade profissional que abraçam. Sentem-se ofendidos quando alguém fala mal da classe à qual pertencem.

Não tenho isso. Sou formado em jornalismo. Não sou orgulhoso disso. Mas também não sou desgostoso. E não me sinto obrigado a defender “os jornalistas” ou “o jornalismo”. Podem falar que jornalista é vendido. Que jornalista é manipulador. É uma opinião e pronto.

Vou dar um exemplo. Participo de um grupo de discussão na Internet que reúne majoritariamente profissionais de Recursos Humanos. Há neste grupo uma psicóloga especializada em psicodrama. É uma técnica de treinamento pessoal e profissional baseada em dramatizações. Esta psicóloga cita um tal de Moreno, fundador do psicodrama, em quase todas as intervenções dela na rede.

Resolvi debochar. Chamei psicodrama de teatrinho para adultos. Perguntei por que ela sempre citava esse Moreno, um sujeito que ninguém conhece. Aliás, só deve ter alguma relevância no nanocosmo psicodramatista. Minha colega de grupo ficou ofendida. Mandou uma mensagem com um discurso que me pareceu de indignação por eu ter atacado a atividade dela. Mais: o psicodrama, afirmou, trata-se de uma técnica altamente respeitada na atualidade.

Pode até ser que o psicodrama tenha alguma importância. Embora na revistas de disciplinas da mente que leio – as que vão para as bancas, tipo Mente & Cérebro e Psique – nunca tenha visto matéria ou artigo sobre esta corrente. Não leio as publicações mais especializadas.

Só que a questão é esta indignação profissional. Eu só fiz uma provocação barata. Não conheço o tal psicodrama. Não sei como se dá o trabalho desta minha colega de grupo virtual. Apenas tirei sarro. Mas os normais levam as coisas muito a sério. E acabam sendo irresistíveis para mentes irreverentes.

Penso que reações coléricas a opiniões – sobretudo a opiniões como as minhas, que não mudam em nada a situação de um profissional ou de uma categoria – são contraproducentes. Só dão munição e cartaz para quem opinou. Além serem feias. Feias no sentido estético. Basta ver as feições que se formam no rosto de uma pessoa indignada ou enfurecida. Dá rugas de expressão.

Por isso que sou favorável a deixar que qualquer tipo de opinião possa ser manifestada. Não por que se trata de uma convicção moral. E sim por conveniência. Vale falas preconceituosas, racistas, ofensivas, infundadas e tudo mais. Os esforços devem-se ser alocados para atacar as ações. Se alguém é racista e aquilo fica só no pensamento e na boca dele, beleza. Ele deve ser detido e processado apenas se agredir fisicamente ou discriminar – expulsar de um elevador, por exemplo - o objeto do ódio dele.

Há ainda uma questão econômica envolvida. Custa caro reprimir. E vai custar duas vezes mais combater tanto pensamentos e opiniões quanto iniciativas. Creio que será mais eficaz usa os recursos para atuar sobre o que as pessoas fazem e não sobre o que elas pensam e dizem.

Exemplo: penso que punir quem nega o Holocausto não inibe o surgimento de grupos neonazistas. Quem tem ódio por judeus – assim como negros, nordestinos e homossexuais, no caso brasileiro – não vai deixar de odiar porque calam a boca de quem fala do assunto. Pelo contrário, os calados podem até ser transformados em mártires. E aí o fanatismo vai crescer. Quem não gosta vai continuar dizendo que não gosta, mesmo que seja clandestinamente. Mas pode evitar cometer atos de violência porque dá cana brava.

É por isso que ataco o politicamente correto. Além de chato, é dispendioso e ineficaz.

Volto ao início. Jamais me vendi. Porque até agora ninguém quis me comprar.



Marcelo Amaral
e-mail:
mcamaral@uol.com.br
www.twitter.com/marcamaral




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