Não tenho o gene do nhenhenhém. Consequência: sou antirromântico. Por esse motivo fui ver o filme Ele não está tão a fim de você. É baseado no livro Ele simplesmente não está a fim de você - Entenda os homens sem desculpas, dos americanos Greg Behrendt e Liz Tuccillo, da equipe de roteiristas do seriado Sex and the city. Claro que não se trata de um panfleto contra a paixão, o amor e os relacionamentos sérios. É uma comédia de Hollywood, não um filme cabeça. Há finais felizes. Finais porque são algumas histórias e personagens que resvalam uns nos outros. Mas até que cutuca a questão da esperança - principalmente das mulheres - de encontrar o par ideal.
Gigi, a personagem que está mais em busca do homem da sua vida, recebe várias lições diretas sobre o comportamento masculino. Tem a ajuda de um consultor - um gerente de bar galinha - que mostra a ela todas as artimanhas dos caras para dispensar uma mulher. Mesmo assim, Gigi mantém as expectativas. Fica esperando os caras ligarem. Inventa desculpas sobre os motivos pelos quais os sujeitos não quiserem um segundo encontro com ela. Pior: persegue alguns deles. Por e-mail, telefone ou indo até os locais frequentados pelos indivíduos. É caricato. Óbvio. Só que muitas garotas ainda adotam posturas como as de Gigi.
Isso me intriga. Por que muitas mulheres ainda focam na busca do relacionamento sério. Existem as explicações psicológicas mais difundidas. Uma delas é a de que o ser humano sente falta do aconchego do ventre e dos cuidados da mãe quando bebê. Isto provoca uma sensação de incompletude que, na mente humana, somente será superada por meio de um relacionamento amoroso como namoro ou casamento. Um relação oferece segurança emocional. Vai ver que eu nasci completo. Sou misógamo. E, entre segurança e liberdade, principalmente no lado afetivo, fico sempre com a liberdade.
Muitos especialistas atacam o romantismo. Flávio Gikovate, um psicoterapeuta midiático, é um deles. Ele é mais vaselina, pois precisa ser político por conta de suas participações na imprensa e como consultor de empresas. No livro Ensaios sobre o amor e a solidão, Gikovate diz que as relações amorosas de melhor qualidade se parecem mais com amizade do que o ardor - o cíume, o controle e a possessivade - romântico.
Regina Navarro Lins, autora de Fidelidade obrigatória e outras deslealdades é mais contundente. Ela se posiciona contrária à fidelidade sexual. Além disso, aborda o poliamor. Trata-se do seguinte: uma pessoa pode constituir uma rede de relações amorosas. Morar com alguém que seja melhor companheiro, ter um outro parceiro sexual e depois sair com alguém mais divertido para jantar.
A americana Laura Kipnis enfia ainda mais o pé na jaca em Contra o amor - Uma polêmica. Gosto muito da objetividade da maioria dos americanos. Laura escreve que o casamento é um prisão. Um subaproveitamento de todas as possibilidades de relações.
Estou com Laura. Não consigo entender por que as pessoas ainda pensam em apenas um parceiro para tudo. Não compreendo como mais gente não adere, mais abertamente, a este lance de poliamor exposto por Regina Navarro Lins.
Mas, para o encantamento dos carentes, o romantismo continua hegemônico. Os especialistas apenas apontam tendências que ainda vão demorar muito a se consolidar. Enquanto isso, vou ter de ouvir o nhenhenhém de que "todo mundo precisa de alguém".
O melhor de Ele não está tão a fim de você é Scarlett Johansson. Além da beleza, a personagem dela, Ana, mostra-se, ao final, uma representante da liberdade sexual e amorosa. Repito minha tese já externa anteriormente: casamento é para os medíocres. Os muitos bonitos, muito inteligentes, muito cultos ou muito talentosos devem ser livres.