Não sou afeito a relacionamentos amorosos. Pessoas apaixonadas – exceto para seus parceiros de paixão – se tornam maçantes. Mas leio, ouço e vejo coisas sobre o tema. Até para poder atestar que não sou do ramo. Também fico com munição para participar de conversas acerca do assunto, principalmente se for para alfinetar os outros.
Tive um papo recente sobre paixões com duas mulheres que foram minhas colegas de faculdade. Ambas se reconhecem como altamente passionais. Não apenas no aspecto romântico, mas em tudo. Elas precisam de paixão no trabalho, nos estudos e quaisquer outras esferas da vida.
São três questões que me entediam nos passionais. A primeira delas é que eles ficam monotemáticos. Só pensam na outra pessoa – se bem que pode ser também um ideia, uma causa ou, pior ainda, um animal.
Culpa da dopamina e da norepinefrina, substâncias produzidas pelo organismo que dão foco e fixação, conforme descreve o livro Por que amamos?, de Helen Fischer, antropóloga norte-americana que realiza pesquisas, em conjunto com neurocientistas, sobre relacionamentos amorosos. Isso tudo para favorecer o acasalamento e a reprodução.
Outra coisa: passionais e sensíveis se acham dotados de superioridade moral. Arrogar-se superioridade moral já é brega. Em combinação com paixão amorosa, fica mais piegas ainda. É que eles se acham mais humanos, por viverem fortemente as emoções. Assim, julgam-se mais compreensivos e éticos que os demais.
Por conta disso, querem pautar as relações. Impõem um jeito tatibitate na comunicação. Exigem demonstrações de paixão o tempo inteiro. Tem de ser do jeito deles. E pior: não aceitam questionamentos. Só eles podem criticar. Claro, eles são sensíveis, então são superiores e sabem o jeito certo de se comportar num relacionamento. É sufocante.
Aí vem o terceiro aspecto que me chateia no passionalismo: o receio de falar de forma direta. As pessoas normalmente evitam certos assuntos e tons para não ferir as suscetibilidades do sujeito sensível. Isso acaba com o humor, principalmente.
O engraçado é que quando a coisa degringola – um rompimento, uma paixão não correspondida – o friozão aqui vira modelo. As minhas duas colegas de faculdade disseram que gostariam de comprar um pouco dos meus genes, uma vez que sofrem muito com tanta intensidade emocional.
Por isso que esse papo todo de encontrar alguém não me pega. O que as pessoas querem mesmo é a autossuficiência emocional.
Quem não tem tal capacidade, pode recorrer a outro livro de Helen Fischer. Chama-se Por que ele? Por que ela? e trata das personalidades humanas – de acordo com bases químicas, como em Por que amamos? – frente aos relacionamentos amorosos.
Helen Fischer mostra no livro que os Negociadores – forma como ela denomina os passionais - se sentem mais atraídos pelos Diretores, tipos mais objetivos, diretos e menos expressivos emocionalmente. Seria a uma busca por complementaridade em relação ao nhenhenhém deles, os Negociadores.
Não acredito nesse lance de complementar. Indivíduos passionais nunca ficam satisfeitos por muito tempo, pelo que observo. Querem que os outros entrem na mesma pilha deles, sendo tão amorosos e devotados como eles, Negociadores, acreditam ser. Penso que só dá certo com outro passional, que pode compreender melhor e aceitar tanta carga emocional.
Sempre sou questionado quando vou arrumar uma namorada. Respondo que namoro é caro. Jantares, cinema e presentes levam muita grana. O melhor investimento é a solidão. Tem mais: relacionamento engorda.
Marcelo Amaral
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